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João Novazzi

Ilhabela dos mistérios: um dos maiores enigmas do litoral paulista


Há lugares que guardam segredos e despertam algumas das maiores curiosidades na humanidade. As cabeças da Ilha de Páscoa (no Chile), Machu Picchu (no Peru), Stonehenge (na Inglaterra) ou o Triângulo das Bermudas (no Oceano Atlântico) são exemplos que impressionam (ou assustam) as pessoas por suas histórias incríveis, detalhes inexplicáveis e/ou por belezas naturais ou culturais ímpares que parecem ser retiradas de um sonho de verão.




Brasil não fica de fora da lista de países com locais misteriosos e surpreendentes, e (creio eu que) uma ilha situada no litoral norte do estado de São Paulo, a mais de 200 quilômetros da capital, merece linhas dedicadas a contar um pouco sobre sua história para os fiéis leitores da nossa querida revista.


Ilhabela (aqui chamada simplesmente de a Ilha), o maior arquipélago brasileiro, também apelidada de Capital da Vela, em decorrência dos ventos que passam pelo canal de São Sebastião (região vizinha da ilha) e que proporcionam a realização da maior competição do esporte da América Latina[1], sempre foi um dos meus espaços preferidos em todo o planeta, pois me cativa desde criança por sua magnitude (cultural e natural) e seus enigmas.


A região foi originalmente ocupada por indígenas tupinambás e tupiniquins, e se tornou refúgio de piratas nas primeiras décadas do Brasil após o início da colonização. Ademais, a história da Ilha foi marcada por um intenso comércio de produtos agrícolas, minerais, além de, infelizmente, óleo de baleia e de indivíduos escravizados durante o período colonial. De todo modo, por esses motivos, Ilhabela foi historicamente importante na região de São Paulo.

(fonte: fotografia própria do redator).

Sua beleza natural é única e coleciona dezenas de praias paradisíacas com nomes que carregam narrativas igualmente singulares: praia da Caveira, Engenho D’Água, Feiticeira, Castelhanos, Rabo Azedo, Curral e Armação são apenas algumas exemplificações. Em certos casos, as nomenclaturas são, na realidade, bastante assustadoras e colocam medo em crianças e adultos. A praia da Feiticeira, por exemplo, tem esse nome porque, de acordo com o que se conta na Ilha, a dona de uma fazenda chamada São Matias havia enriquecido ao manter uma taberna na praia onde piratas e marinheiros de navios negreiros e mercantes buscavam por mantimentos diversos. A proprietária da fazenda era conhecida como “a feiticeira”, já que no final da vida, receosa de sofrer um ataque de piratas e ladrões, supostamente enterrou e escondeu um valioso tesouro com a ajuda de seus escravos. Ao final da ação, matou todos aqueles que a auxiliaram, para que ninguém revelasse o segredo. Após tamanha crueldade, a feiticeira teria enlouquecido e desaparecido, deixando para trás este mistério[2]. Até hoje, muitos buscam pelo tesouro, que segue escondido.


A natureza como um todo encanta a todos que passam pelo arquipélago, sendo que, segundo Jeannis Michail Platon, “graças à estagnação econômica de longos 70 anos e porque providências nesse sentido foram tomadas [para proteger o meio ambiente], Ilhabela ostenta atualmente o título de município com maior índice de preservação de Mata Atlântica do Brasil. Uma das medidas exemplares foi a criação do Parque Estadual de Ilhabela, em 1977, pelo governo paulista, que abrange 83% do município”[3]. Ainda de acordo com Jeannis, Ilhabela conta com 800 espécies de aves, 180 de anfíbios e 131 de mamíferos.



Tradições felizmente preservadas dos povos africanos (em especial, dos bantus), que habitaram a Ilha nos seus primórdios, têm importância considerável para o povo, como é o caso da Congada de São Benedito. O evento, que ocorre em maio de cada ano, é segundo Jeannis “uma arte que mantém suas características originais, de quase dois séculos, através das falas, música, fantasia e representação, ao som da marimba de madeira e de dois atabaques ou tambores”[4]. A Congada da Festa de São Benedito de Ilhabela é uma manifestação cultural caiçara que acontece no arquipélago já há quase três séculos[5].


Um dos pontos que mais chama a atenção de curiosos para a Ilha é a quantidade assustadora de naufrágios em suas praias e regiões próximas, também recebendo o apelido de Triângulo das Bermudas do Brasil[6]. No arquipélago, há registro de 16 embarcações naufragadas e documentadas, além de mais 12 que esperam confirmação, e várias outras desconhecidas, encontradas por mergulhadores[7]. Um dos mais trágicos casos foi o do Príncipe de Astúrias, um navio espanhol que afundou na costa em março de 1916 sendo que, na ocasião, pelo menos 445 pessoas faleceram. De acordo com os guias do Museu Náutico com quem já conversei, a explicação mais plausível (e científica) para a quantidade elevada de naufrágios seria a natureza vulcânica das rochas que compõem o arquipélago, o que gerava distorções e interferências nos aparelhos marítimos utilizados antigamente.



(fonte: https://www.uol.com.br/nossa/noticias/redacao/2023/01/27/abducao-e-luzes-estranhas-as-historias-de-ovnis-do-litoral-norte-de-sp.htm. Descrição: César Miglioranza mostra direção em que viu a aproximação de um discovoador na praia do Porto Novo, em Caraguatatuba, em 1996).


Teorias da conspiração, contudo, também ligam os naufrágios às diversas aparições de luzes no céu e no mar, de objetos voadores não identificados (óvnis) e, até mesmo, de supostos contatos diretos com seres de outros mundos. Inúmeras outras histórias são contadas entre os moradores da Ilha e propagadas por todo o país (chegando até mesmo no exterior, o que acaba enviando centenas de turistas para a região todos os anos). De acordo com recente reportagem de Reginaldo Pupo[8], nos últimos meses, diversos relatos de aparições de óvnis nos municípios do litoral norte de São Paulo vêm se espalhando entre moradores e turistas. Apesar do crescimento expressivo de supostos avistamentos, os primeiros registros de fenômenos desse tipo na região datam da década de 1920. Ainda segundo os especialistas e moradores, também há registros de OSNIs (objetos submarinos não identificados), ou seja, que ocorrem no mar da Ilha.


Somado aos mistérios e histórias enigmáticas, Ilhabela hoje vive graças à pesca, à agricultura, ao turismo e, sobretudo, à força do povo caiçara, que propagou e encantou o mundo com tanta história e tradição, e tem lutado bravamente para manter a beleza inigualável de suas praias, matos e cachoeiras, quase intactas contra a sede incansável de oportunistas e criminosos que tentam a todo custo desmatar e explorar as florestas do Brasil desde o primeiro segundo de sua existência.


Os mistérios de Ilhabela seguem encantando e intrigando multidões de curiosos de diferentes origens, e sua história merece ser ressaltada e propagada para as futuras gerações.


Referências bibliográficas:


[1] De 1979 a, pelo menos, 2014, Ilhabela recebeu a Semana Internacional de Vela, o maior evento de vela da América Latina. Disponível em:< https://www.saopaulo.sp.gov.br/ultimas-noticias/privilegiada-com-belas-praias-e-mar-azul-ilhabela-e-a-capital-nacional-da-vela-1/#:~:text=O%20munic%C3%ADpio%20%C3%A9%20reconhecido%20oficialmente,da%20categoria%20na%20Am%C3%A9rica%20Latina.>. Último acesso em 01.02.2023.

[3] PLATON, Jeannis Michail. Ilhabela e seus enigmas. 6ª edição – São Sebastião, SP. Ed. do autor. 2009.

[4] Idem.

[5] Disponível em:<https://congadadeilhabela.com.br/>. Último acesso em 22.02.2023.


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