A forma como somos ensinados e educados está diretamente relacionada com a forma como vivemos e com nossos valores como sociedade. O método de aprendizado expositivo se consolidou como prática pedagógica na Idade Média pelo Jesuítas[1] e remontou às necessidades do sistema fabril específicos aos séculos XVIII, XIX e início do XX. Neste método o professor é a figura central e diante dele estão os alunos enfileirados e obedientes.
Desde crianças estamos inseridos em um sistema que nos ensina a reproduzir aquilo que já está pronto e definido. Na escola não é diferente. O método expositivo, aplicado em praticamente toda escola brasileira, caracteriza-se pela autoridade do professor diante do aluno, causando sérios problemas de comunicação.
Dentro desse método tradicional, os alunos assumem um papel passivo dentro da sala de aula, limitando-se quase que exclusivamente a ouvir a matéria passada pelo professor para depois reproduzir em provas escritas com o objetivo de garantir seu sucesso escolar.
É valido dizer que esse método considera que todos os alunos absorvem e aprendem da mesma maneira, excluindo o importante fato de que possuem conhecimentos prévios e que possuem vivências e experiências únicas. Acredita-se que se o aluno foi capaz de reproduzir os conteúdos ensinados, ainda que de forma automática e invariável houve aprendizagem. Será?
Um dos grandes problemas desse método de ensino é que alguns alunos acabam não acompanhando ou compreendendo o que é exposto pelo professor, seja porque acham a exposição muito complexa ou por não serem agentes ativos na hora do aprendizado, consequentemente se sentem desmotivados.
Dessa forma, estando o método expositivo inserido numa pedagogia tradicional de ensino, em que o professor é o único agente ativo dentro da sala de aula, esta metodologia de ensino não desenvolve as capacidades e competências intelectuais que resultem na reflexão, por parte da criança, sobre o que aprendeu.
Assim, as aulas expositivas são ideais para expor a teoria, definições e conceitos. Mas quando se pretende que os alunos analisem, raciocinem, tragam problemas e desenvolvam o espírito crítico de forma individual ou coletiva, não podemos dizer que se trata do método tradicional expositivo.
Tendo isso em mente, passamos a analisar o método construtivista[2] que é justamente a negação da memorização, mecanização e automatização pelos professores que aderem esse método. Essa metodologia defende que os alunos não devem memorizar os conteúdos, mas sim compreendê-los.
Mas, assim como o método expositivo tradicional, o método construtivista também possui suas críticas. A mais apontada é que esse método relaciona-se com o excesso de autonomia e de atividades dadas aos alunos, que nem sempre resultam na construção de conhecimentos, mas em entendimentos desconexos e sem fundamentação coerente.
Portanto, uma das principais preocupações do ensino construtivista está relacionado com o gosto, interesse e nível de motivação do aluno em face aos conteúdos. Assim, a importância da ação de cada indivíduo na construção do próprio saber e o papel do educador como mediador entre o conhecimento e o aluno são pontos muito interessantes e válidos para uma educação que preze não só pela fixação de conteúdos, mas pelo desenvolvimento de um raciocínio crítico. Ou seja, uma educação que preze pela qualidade e não quantidade.
É imprescindível que analisemos também a metodologia freiriana. Essa metodologia é muito parecida com a o método de ensino construtivista. Criada pelo educador e filósofo brasileiro, Paulo Freire, a metodologia freiriana procura o estímulo das capacidades críticas com o objetivo de colaborar com o desenvolvimento da autonomia pelo próprio sujeito do aprendizado. Tem-se como objetivo que a criança e o adolescente fortaleçam e vivenciem sua integridade e independência perante a sociedade e o mundo.
Na pedagogia de Freire vemos a importância de trazer o contexto de cada aluno. Em sua obra, Pedagogia do Oprimido, o educador brasileiro defende que a escola e o professor levem em conta a vivência de cada aluno para que, assim, a aprendizagem e o desenvolvimento da criança e do jovem não sejam distantes daquilo que eles vivenciam em suas particularidades.
Da mesma maneira que a construtivista, a metodologia freiriana entende que cada indivíduo tem um processo específico de conhecimento do mundo e fica ao educador a responsabilidade de identificar esse movimento e estimulá-lo.
Levando essa análise para o quadro social brasileiro, podemos perceber que o método tradicional é o expositivo e isso nos traz uma nova indagação: Será que de fato a educação no Brasil é de qualidade?
Essa é uma pergunta muito importante mas muito controversa. Estamos inseridos em uma sociedade que preza pela produtividade, especialmente se você for da classe pobre. Um indivíduo que trabalha muito, e reproduz o mesmo conhecimento todos os dias de forma mecanizada e sem pensamento crítico sobre aquilo que está fazendo é geralmente muito exaltado em nossa sociedade. Nossa noção de sucesso, felicidade e até mesmo amor está sempre muito (se não totalmente) relacionada à nossa capacidade de (re)produzir. E onde aprendemos isso pela primeira vez? Na escola.
A porta de entrada para o ensino superior é o vestibular. Essa prova, que vai decidir o futuro do jovem, nada mais é que uma soma de pontos sobre a matéria que foi decorada pelo adolescente. Ali não se prova raciocínio crítico ou a relação de conteúdos ao cotidiano desses jovens. Memorização e reprodução de conteúdo sem análise crítica são cobrados todos os anos no vestibular.
Se um ensino é melhor que o outro ou não, o fato é que o nosso país preza por adultos que pensem menos e (re)produzam mais. Isso cria um estigma em nossa sociedade de que não só apenas algumas profissões são importantes mas também que a criatividade e a curiosidade são menos importantes do que o conhecimento prévio já mastigado e exposto.
Cabe à nós analisarmos esse meio social e formar (olhem só) um pensamento crítico sobre isso. Especialmente se queremos transformar o ensino brasileiro para formar indivíduos com capacidade de analisar as situações de forma crítica. Nas palavras de Alec Bourne[3]: “É possível guardar na mente um milhão de fatos e ainda assim ser totalmente sem educação.”
Por fim, apesar de um sistema escolar que adota o método expositivo, vemos cada vez mais a inserção de métodos e práticas construtivistas nas escolas, levando em consideração os conhecimentos prévios das crianças. Relacionar os conteúdos ao cotidiano delas, problematizá-los e sistematizá-los torna a aprendizagem significativa.
Essas são algumas das premissas que devem estar presentes em todas as atividades planejadas, e com a aula expositiva não é diferente. Quando esses aspectos são levados em conta, ocorre um distanciamento do modelo tradicional e uma aproximação da aula expositiva dialogada.
Assim, um modo mais interessante pode ser o esforço conjunto da escola em se movimentar nas duas direções – teoria e prática – fazendo a devida distinção e integração das duas de forma harmônica.
[1] Os jesuítas eram padres que pertenciam à Companhia de Jesus, uma ordem religiosa vinculada à Igreja Católica que tinha como objetivo a pregação do evangelho pelo mundo.
[2] A metodologia construtivista foi originalmente desenvolvida pelo intelectual e educador francês, Jean Piaget. Piaget foi um observador atento do processo de aprendizado e amadurecimento do comportamento e das capacidades intelectuais socioafetivas das crianças.
[3] Alec Bourne foi um escritor e médico britânico com atuação nos anos 30.
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