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Giovanna Pecorari Coelho

A influência de Keynes na Economia e na política:Das consequências econômicas da Paz aos dias atuais

Como a sociedade contemporânea chegou nos sistemas políticos e econômicos que nos regem todos os dias?


Essa é uma questão profundamente estudada nas disciplinas dentro das universidades e que costuma levar tempo para ser compreendida. Além de apresentar controvérsias, complexidade e interferências através do tempo. Num tema que pode se tornar tão complexo, mas que move a nossa sociedade, é interessante abordar um famoso economista, que as ideias ainda são muito influentes nos dias de hoje.

https://www.gettyimages.pt/fotos/john-maynard-keynes

John Maynard Keynes é considerado um dos eminentes economistas que revolucionaram o século XX. Suas ideias foram essenciais para a reformulação da perspectiva do papel do Estado na Economia de um país e deram origem à teoria denominada Keynesianismo, “que surge com uma alternativa às teorias econômicas liberal e marxista.”

Antes de continuar a leitura deste artigo, é importante que o leitor compreenda que a ciência econômica é conhecida por muitos pela palavra “depende” pois é famosa pelas discordâncias e debates entre as escolas de economistas, sejam de frente ortodoxa ou heterodoxa.[1] Portanto, as ideias de Keynes fazem parte de um debate e de várias vertentes, e nem todos concordam com sua perspectiva.


É interessante ressaltar a trajetória deste economista, pois este teve enorme influência no cenário político além do econômico. Publicada em 1919, “As consequências econômicas da Paz” é uma das suas principais obras, com 7 capítulos que contextualizam sob uma perspectiva crítica, as discussões da Conferência de Paris, a qual Keynes estava presente como representante do Tesouro Britânico. Este também trouxe de forma detalhada o debate traçado pelos estadistas, e projeções e estudos econômicos do que a Europa enfrentaria após o tratado que visava reparar as consequências da Primeira Guerra e fazer justiça aos vencedores. Ele é bem crítico em como os países vencedores determinaram a “paz” aos derrotados, principalmente para a Alemanha, pois as condições impostas eram quase impossíveis de serem colocadas em prática, o que “levaria à ruína econômica da Alemanha, com graves consequências para o resto do mundo” (KEYNESIANISMO, 2021).


Keynes foi visionário nesta obra, em que, nas suas análises, alerta para a possibilidade de uma Segunda Grande Guerra após as decisões da Conferência, o que realmente ocorreu. Pode-se dizer que a obra é um pontapé para a influência de Keynes no mundo e para o desenvolvimento das suas próximas obras, nas quais traz considerações importantes para o contexto histórico, ainda mais com a sua perspectiva de matemático.


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Após muitos estudos e o lançamento da sua obra “Teoria geral do emprego, do juro e da moeda” - essencial para a dissipação das suas ideias dentro da economia pelo o mundo, o surgimento do keynesianismo e correntes atreladas a este -, houve uma revolução direta nos estudos de economistas, nas economias de diferentes países e consequentemente na política.


Fernando Ferrari Filho, professor aposentado do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS explica parte das contribuições de Keynes: “em sua principal obra, The General Theory, Employment, Interest and Money (GT), escrita em 1936, propõe, através de políticas fiscal e monetária ativas, a intervenção do Estado na Economia, não no sentido político-ideológico, mas de forma pragmática, para, por um lado, ancorar as expectativas dos empresários e, por outro lado, criar “ambiente institucional favorável” à tomada de decisão de seus gastos de investimento. Para tanto, expansão dos gastos governamentais, reestruturação da política tributária, maior elasticidade do crédito e redução das taxas de juros devem ser operacionalizadas para mitigar as crises de insuficiência de demanda efetiva”. (FILHO, 2021).


Atualmente enxerga-se a influência existente de forma indireta e direta destas ideias em todo o Pós-Keynesianismo[2], que enfatiza a ideia de incerteza dentro da realidade social e no tempo histórico. E, para ficar explícita a influência de Keynes, pode-se trazer algumas situações recentes.

https://www.istoedinheiro.com.br/biden-pede-que-nao-se-facam-de-duroes-com-a-covid-19-e-usem-mascara/

Por exemplo, pode-se destacar a política implementada nos EUA no governo Biden, que, no curto prazo, visa a recuperação da economia pelas consequências trazidas pela pandemia e também recorrer à competição com a China na economia mundial, visto que ela e os EUA atualmente são as maiores potências. Para isso o governo estadunidense influenciará de forma direta na economia, com um plano que se divide em duas partes: “por um lado, o Plano aloca aproximadamente US$ 1,9 trilhão tanto para reforçar o combate à Covid-19 quanto para socorrer as famílias que ficaram desamparadas devido ao processo de lockdown. Por outro lado, o Governo promete destinar US$ 2,3 trilhões para investimentos públicos em infraestrutura geral e residencial, cujos recursos deverão surgir do aumento de impostos para as grandes empresas e sobre os ganhos de capital e a renda da população mais rica.” (FILHO, 2021).


Para muitos, a estratégia de Biden é considerada ousada e suas consequências e interferências ainda serão vistas através do tempo, para outros, é vista como uma saída brilhante para a situação. Apesar da política neoliberal adotada nos últimos anos pelo último presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anteriormente os EUA e outros países também implementaram “políticas econômicas keynesianas contracíclicas” para enfrentar os impactos da crise de 2008.

Este artigo teve o propósito de explorar e compreender, de maneira breve, a influência de Keynes do passado até o atual mundo globalizado, na política, na economia e na ciência. Ademais, a escrita deste artigo foi fortemente influenciada pelas aulas da disciplina “Formação do Sistema Internacional” ministradas pelo Doutor e Jornalista Gilberto Maringoni e pelo podcast “Economia Underground”, produzido por economistas institucionais brasileiros - especificamente o episódio que debate o Pós-Keynesianismo e a sua relação com o mundo, que deixo como recomendação para se aprofundar no assunto.


De fato, Keynes trouxe contribuições em diversos ramos. Mas, o que também importa, é como podemos utilizá-las, estudá-las e debatê-las para os problemas atuais.


[1] “Na economia, a abordagem atualmente dominante é a ortodoxa e usa um tipo de modelo matemático (neoclássico). A heterodoxia é o conjunto das abordagens alternativas. Engloba as escolas marxista, institucionalista, pós-keynesiana, neo-Schumpeteriana, estruturalista, austríaca, etc. (GALA, 2020)

[2] O Pós-Keynesianismo é uma corrente teórica dentro da economia, que traz uma perspectiva de mundo inspirada nas contribuições do economista britânico Keynes. Nos anos 30 ele produziu sua grande obra-prima que é a “Teoria geral do emprego, do juro e da moeda”, que buscava uma revolução no pensamento econômico e que até os dias de hoje muitos não compreendem seus pensamentos e obras. Keynes dá ênfase na ideia de que as expectativas são importantes na economia. (ECONOMIA UNDERGROUND, 2021)



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


FILHO, Fernando Ferrari. O keynesianismo do Plano Biden. [S. l.], 27 maio 2021. Disponível em: https://www.ufrgs.br/fce/o-keynesianismo-do-plano-biden/. Acesso em: 20 set. 2021.

GALA, Paulo e ROMERO, João. O que é Ortodoxia, Heterodoxia e Pluralismo em Economia? 12/10/2020. disponível em: https://www.paulogala.com.br/o-que-e-ortodoxia-heterodoxia-e-pluralismo-em-economia/

JOE Biden ressuscita Keynes com seu plano de investimentos: Se o democrata não obtiver sucesso, pode colocar em risco o resultado das próximas eleições, o que justifica sua reação rápida e o pacote tamanho jumbo. [S. l.], 8 abr. 2021. Disponível em: https://exame.com/bussola/joe-biden-ressuscita-keynes-com-seu-plano-de-investimentos/. Acesso em: 20 set. 2021.

KEYNES, J. M. As consequências econômicas da paz, Imprensa Oficial do Estado, Editora Universidade de Brasília, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, São Paulo, 2002

KEYNESIANISMO: o que diz essa teoria econômica?. [S. l.], 14 nov. 2019. Disponível em: https://www.politize.com.br/keynesianismo/. Acesso em: 20 set. 2021.

#33 – O Pós-Keynesianismo. Intérprete: Economia Underground Podcast. Spotify: Economia Underground: Um Podcast Institucionalista, 2021. Disponível em: https://open.spotify.com/episode/2JbJOEHqpdyjBICk0WbjE3?si=7PcncqhzSnSpoHe6anX3ZA&utm_source=copy-link&dl_branch=1. Acesso em: 15 set. 2021.

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