O dia 8 de março é reconhecido como o Dia Internacional das Mulheres, marcado não apenas por homenagens, mas também por reflexões e lutas para a garantia dos direitos femininos. Entre esses direitos está o acesso e reconhecimento das mulheres na área da saúde, um campo historicamente dominado por homens.
De acordo com dados do IntraHealth International (2017), em uma amostra de 123 países, 67% das vagas na área da saúde e social eram ocupadas por mulheres, contudo, os homens ainda detêm cargos de destaque (NEXXTO, 2020). Apesar dessa desigualdade, há um avanço notável no Brasil: o Conselho Federal de Medicina (2020) relata que o número de mulheres exercendo a medicina dobrou em duas décadas. Essa mudança significativa no setor de saúde é fruto da luta, esforço e estudo de muitas mulheres. Neste texto, apresentaremos brevemente a história de 8 mulheres que se destacaram e são reconhecidas pelos seus feitos na área da saúde.
Rita Lobato
Nascida em 7 de junho de 1866, em São Pedro do Rio Grande (RS), Rita Lobato foi a primeira mulher brasileira a se tornar médica após concluir seus estudos na Faculdade de Medicina da Bahia, em 1887. Apesar das críticas enfrentadas, Rita persistiu em sua carreira, tornando-se a primeira médica diplomada do Brasil e a primeira vereadora do Rio Grande do Sul. Seu legado na medicina perdurou até seus 76 anos de idade, quando faleceu em 1954 (BEGLIOMINI, 2021).
Nise da Silveira
Nise da Silveira, nascida em 15 de fevereiro de 1905, em Maceió, foi uma renomada médica psiquiatra brasileira. Reconhecida por suas contribuições à psiquiatria, Nise revolucionou os tratamentos da época, introduzindo a terapia ocupacional como uma forma de expressão e recuperação para os pacientes. Fundou o Museu de Imagens do Inconsciente em 1952, destacando-se como uma das pioneiras no tratamento humanizado da saúde mental (UNIFEI, 2024).
Maria Deane
Nascida em 24 de julho de 1916, em Belém do Pará, Maria Deane foi uma excepcional protozoologista brasileira. Suas descobertas significativas sobre doenças tropicais, como a leishmaniose visceral e a malária, contribuíram para a compreensão e o combate dessas enfermidades. Além de sua pesquisa, Deane dedicou-se à formação de profissionais de saúde, deixando um legado duradouro na área da parasitologia (FIOCRUZ, 2024).
Zilda Arns
Nascida em Forquilhinha (SC), Zilda Arns foi uma médica pediatra e sanitarista reconhecida por seu profundo envolvimento com a igreja católica e seu compromisso com a saúde pública. Fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, bem como da Pastoral da Pessoa Idosa, Zilda Arns dedicou sua vida a iniciativas de ação social e saúde. Sua atuação na coordenação da campanha de vacinação Sabin, em 1980, durante a primeira epidemia de poliomielite, demonstrou seu comprometimento com a prevenção de doenças e o bem-estar da população (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2024).
Adriana Melo
Natural de Pocinhos (PB), Adriana Melo é uma médica obstetra cujo trabalho se destacou no enfrentamento da epidemia de Zika vírus. Em 2015, ao observar uma má formação craniana incomum em um feto de uma paciente, iniciou um extenso trabalho de pesquisa que resultou na identificação da Síndrome Zika Congênita. Além de sua atuação clínica, Melo preside o Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto, onde continua apoiando crianças afetadas pelo Zika vírus no Brasil e em Angola (PRÊMIO ESPÍRITO PÚBLICO, 2024).
Ester Sabino
Ester Sabino, nascida em São Paulo, em 1960, é uma médica e pesquisadora reconhecida por suas contribuições para a imunologia. Doutora em Imunologia, suas pesquisas focam em epidemias como HIV, arbovírus e SARS-CoV-2, além de segurança na transfusão sanguínea. Recebeu prêmios e medalhas por seu trabalho, destacando-se como uma figura importante no avanço da pesquisa médica no Brasil (ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS, 2024).
Sue Ann Costa Clemmens
Nascida no Rio de Janeiro em 1967, Sue Ann Costa Clemens é uma pesquisadora e coordenadora científica internacional reconhecida por seu trabalho em vacinologia. Liderou o desenvolvimento de várias vacinas importantes, incluindo as contra rotavírus, HPV e COVID-19. Seu compromisso com a pesquisa e a saúde pública, a tornaram uma figura proeminente no cenário internacional. Atualmente, ela atua como investigadora e coordenadora dos estudos da vacina de Oxford-Astrazeneca no Brasil, dentre outros comitês voltados ao combate do coronavírus (INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CARLOS CHAGAS, 2024).
Jaqueline Goes
Jaqueline Goes, nascida em Salvador em 1989, é uma biomédica dedicada à pesquisa e inovação biomédica. Seus estudos sobre o HIV, Zika Vírus e, mais recentemente, a COVID-19, demonstram seu compromisso com a saúde pública e o avanço científico. Sua contribuição para o sequenciamento do genoma do SARS-CoV-2 foi fundamental para o desenvolvimento de tratamentos e vacinas contra a doença (CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, 2021).
Essas figuras exemplificam o papel crucial das mulheres na área da saúde, não apenas como profissionais dedicadas, mas também como líderes e inovadoras que moldam o futuro da Medicina e da pesquisa biomédica.
Referências bibliográficas
Academia Brasileira de Ciências. Ester Cerdeira Sabino. [s.d.]. Disponível em: <https://www.abc.org.br/membro/ester-cerdeira-sabino/>. Acesso em: 31 mar. 2024.
BEGLIOMINI, Helio. Mulheres notavéis e pioneiras na área da saúde do Brasil do século XIX. Expressão & Arte Editora, 2021. Diponível em: <https://www.academiamedicinasaopaulo.org.br/wp-content/uploads/6-LIVRO-MULHERES-NOTAVEIS-E-PIONEIRAS-NA-AREA-DA-SAUDE-DO-BRASIL-DO-SECULO-XIX-2021.pdf >Acesso em: 30 mar. 2024.
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA (CFM). Em 20 anos, dobra o número de mulheres que exercem a medicina no Brasil. Portal CFM, 2020. Disponível em: <https://portal.cfm.org.br/noticias/em-20-anos-dobra-o-numero-de-mulheres-que-exercem-a-medicina-no-brasil/>. Acesso em: 30 mar. 2024.
CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Jaqueline Goes de Jesus, cientista que mapeou o genoma do coronavírus, é homenageada pelo CNS. 2021. Disponível em: <https://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/2251-jaqueline-goes-de-jesus-cientista-que-mapeou-o-genoma-do-coronavirus-e-homenageada-pelo-cns>. Acesso em: 1 abr. 2024.
FIOCRUZ. Maria Deane. [s.d.]. Disponível em: <https://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/Biograf/ilustres/maria.htm>. Acesso em: 31 mar. 2024.
GATTI, Beatriz. 8 mulheres que contribuíram para as ciências da saúde no Brasil: Reconhecimento do trabalho das cientistas no país foi tema da redação na reaplicação do Enem 2021, realizado por mais de 340 mil candidatos. In: Galileu: Saúde. [S. l.], 2022. Disponível em: <https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2022/01/8-mulheres-que-contribuiram-para-ciencias-da-saude-no-brasil.html>. Acesso em: 7 maio 2024.
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CARLOS CHAGAS. Sue Ann Costa Clemens. Biografia. Disponível em: <https://www.carloschagas.org.br/professores/sue-ann-costa-clemens/>. Acesso em: 1 abr. 2024.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Zilda Arns. [s.d.]. Disponível em: <http://www.ccs.saude.gov.br/cns/zilda-arns.php>. Acesso em: 31 mar. 2024.
NEXXTO. Mulheres no setor de saúde. Nexxto, 2020. Disponível em: <https://nexxto.com/mulheres-no-setor-de-saude/>. Acesso em: 30/03/2024.
PRÊMIO ESPÍRITO PÚBLICO. Adriana Melo. [s.d.]. Disponível em: <https://premioespiritopublico.org.br/adriana-melo/>. Acesso em: 31 mar. 2024.
SENADO. Médica defende melhorias de equipamentos de ultrassom e treinamento de pessoal. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/02/25/medica-defende-melhorias-de-equipamentos-de-ultrassom-e-treinamento-de-pessoal>. Acesso em: 1 abr. 2024.
UNIFEI. Nise da Silveira. [s.d.]. Disponível em: <https://unifei.edu.br/personalidades-do-muro/extensao/nise-da-silveira/>. Acesso em: 30 mar. 2024.
Comments