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Marina Prete Faccio

Normalidade e Patologia na Perspectiva da Infância

Ao direcionarmos a discussão referente à dicotomia[1] normal-patológico para o ponto de vista do desenvolvimento infantil, é importante levar em consideração que, na infância, segundo Winnicott (1964), é natural que o comportamento seja mais disruptivo[2], ao passo que cada criança se expressa no mundo de formas absolutamente distintas, sendo impossível estabelecer limites de normalidade ou patologia comparando umas com as outras. Portanto, para contemplar esta temática, é necessário que nos atentemos à idade, à fase pela qual a criança está passando, ao ambiente em que ela está inserida, à sua própria personalidade e às pessoas cujas quais ela convive diária ou esporadicamente (DELATORRE; DIAS; SANTOS, 2013).


Assim sendo, é de extrema importância observar e avaliar se determinados fenômenos intrapessoais[3] recorrentes no desenvolvimento das crianças as causam angústia, sofrimento e tristeza, ou se elas lidam bem com eles, de maneira que não as atrapalhem e não as incomodem. Além disso, para Winnicott (1964), como as crianças tendem a ser muito intensas no que sentem e no que expressam mediante os acontecimentos de seu cotidiano, é possível assegurar que podem, segundo Delatorre, Dias e Santos (2013, p. 322), “haver crianças normalmente patológicas ou patologicamente normais”.


Para isso, cabe salientar a importância de se considerar as particularidades estruturais e funcionais da criança, bem como o contexto social, familiar e escolar em que ela vive, além de sua capacidade adaptativa perante as mudanças intrínsecas[4] e extrínsecas[5] que tangenciam seu processo de crescimento e desenvolvimento. Por consequência, não devemos, de forma alguma, considerar que estes elementos, quando analisados de maneira isolada, podem prognosticar[6] uma possível tendência patológica ou anormal na criança, já que, ao se avaliar uma psicopatologia infantil, faz-se necessária a investigação de uma integralidade de sinais e sintomas que causam sofrimento na própria criança e em seus familiares (DELATORRE; DIAS; SANTOS, 2013).


Posto isso, entende-se que é impossível considerar que exista uma relação de causalidade entre as psicopatologias e o desenvolvimento infantil. Então, vale ressaltar a importância de se ter uma visão irrestrita[7] e livre de julgamentos sobre as características subjetivas de cada criança, na medida em que o comportamento delas pode remeter a um conjunto de razões que fizeram com que elas agissem de certa maneira, sob determinadas circunstâncias (idem). Desse modo, de acordo com Delatorre, Dias e Santos (2013, p. 325), “uma atitude vista como anormal, pode, na verdade, ser a melhor forma que a criança encontrou para resolver um conflito que a está incomodando”.


Nesse contexto, segundo Dolto (1949, apud DELATORRE; DIAS; SANTOS, 2011), visando o crescimento sadio das crianças, é indispensável que os pais ou cuidadores as deixem livres para serem quem elas são, sem minar a espontaneidade delas, ou seja, as superprotegendo ou determinando como elas devem agir ou reagir perante as situações adversas que lhes são apresentadas no decorrer da infância.


Por fim, conclui-se que, ao abordar estes assuntos, estamos contribuindo com a conscientização da importância da psicoterapia desde a primeira infância, pois, a partir dela, as intervenções terapêuticas podem ser realizadas frente às questões que afligem as crianças, o que corrobora o desenvolvimento saudável destes indivíduos.



Fonte: https://www.psicoedu.com.br/2016/10/psicopatologia-e-transtornos-de-comportamento.html


[1] Oposição entre duas coisas, geralmente entre dois conceitos.

[2] Que provoca ou pode causar disrupção; que acaba por interromper o seguimento normal de um processo.

[3] Que diz respeito ao conhecimento de si ou à relação do indivíduo consigo mesmo.

[4] Que faz parte de ou que constitui a essência, a natureza de algo; que é próprio de algo; inerente.

[5] Que não faz parte do conteúdo essencial de alguma coisa; que se encontra no exterior de algo ou de alguém.

[6] Fazer uma previsão sobre o resultado possível de uma doença.

[7] Que não tem restrição; que não está restrito, limitado.


Referências Bibliográficas


DELATORRE, M. Z.; SANTOS, A. S. dos; DIAS, H. Z. J. O NORMAL E O PATOLÓGICO: Implicações e Desdobramentos no Desenvolvimento Infantil. Revista Contexto & Saúde, [S. l.], v. 11, n. 20, p. 317–326, 2013. DOI: 10.21527/2176-7114.2011.20.317-326. Disponível em: https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/contextoesaude/article/view/1536. Acesso em: 12 jun. 2023.

WINNICOTT, D. W. A criança e seu mundo. Rio de Janeiro: Zahar, 1964.



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