Existe um estereótipo muito forte na cultura brasileira que classifica os povos indígenas como um só. Existem mais de 225 povos indígenas e, de acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai), temos referências de 70 aldeias vivendo em locais isolados e que ainda não foram contatadas. Dizer e propagar esse pensamento de que “índio” é tudo igual reduz uma multiplicidade de culturas e histórias que permeiam o território e a história brasileira, além de reduzi-los a uma mera coisa. Assim como na sociedade não indígena, há uma diversidade de vivências, costumes e culturas que devem ser respeitadas. Devemos parar de fazer associações ignorantes e desprovidas de veracidade sobre populações e vivências que desconhecemos. Se você não sabe sobre determinado povo indígena ou tem dúvidas sobre: pesquise, pergunte, conheça. “Não há conhecimento que não tenha valor.”[1].
2. A Amazônia não é o único lugar onde se encontram os povos indígenas
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, os povos indígenas não vivem apenas no meio da floresta ou somente na Amazônia. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) cerca de 36,2% da população indígena está nas cidades. Além disso, o último censo de 2010, também mostra que somente três dos dez estados com maior número de indígenas se localizam fora da região Norte. São Paulo é o quarto município com maior população indígena (população absoluta[2]) no Brasil: 12.977 indígenas[3].
3. Conheça os direitos indígenas
Na Constituição Federal de 1988, os direitos dos povos indígenas estão expressos em capítulo específico (Título VIII, Da Ordem Social, Capítulo VIII, Dos Índios) com preceitos que asseguram o respeito à organização social, aos costumes, às línguas, crenças e tradições, sendo a União responsável por proteger as terras indígenas. Ainda no texto constitucional, os direitos dos indígenas sobre suas terras são definidos como “direitos originários”, isto é, anteriores à criação do próprio Estado brasileiro e que levam em conta o histórico de dominação da época da colonização[4].
4. Entenda, de uma vez por todas, que não “tem muita terra pra pouco índio”
Existe uma grande busca em deslegitimar o direito constitucional dos povos originários às suas terras. O argumento utilizado por alguns grupos é o de que existe “terra demais para pouca gente”. O primeiro grande erro desse argumento é entender a terra apenas como fonte de renda e valor. Essa mentalidade capitalista é distinta daquela praticada pelos povos indígenas, que possuem modos diferentes de viver e de enxergar os seres vivos. Além disso, como bem pontua um estudo da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), os povos indígenas compõem 5% da população mundial, mas suas terras detém 80% de sua biodiversidade. Ou seja, as Terras Indígenas e o trabalho ativo dos povos que vivem nelas são a última barreira contra o desmatamento e a degradação ambiental, fenômenos que afetam negativamente a vida de todo o planeta.
5. Conheça os povos indígenas do Brasil
Um dos grandes problemas com a educação Brasileira é a sua forma eurocêntrica. Estuda-se sempre pelo ponto de vista do colonizador, mas não pelo do povo nativo e isso é grave, porque é a partir desse déficit na educação básica que se criam e se perpetuam os estereótipos. Conforme já descrito, são mais de 225 etnias indígenas e cada uma tem uma cultura muito diferente da outra. Por exemplo, os Ashaninka têm vestimentas muito parecidas com os tecidos tradicionais peruanos, enquanto o alimento mais importante dos Guarani é o milho, e não a mandioca. O Instituto Socioambiental criou o portal Povos Indígenas do Brasil, onde é possível encontrar os nomes e detalhes de mais de 256 etnias indígenas. Esse é um bom começo para entender mais a diversidade que há dentro dessa população.
6. Escute o que os povos indígenas têm a dizer
Cada vez mais vemos o aumento da participação indígena no debate público nacional. Sônia Guajajara, Ailton Krenak, Davi Kopenawa e Raoni Metuktire (o cacique Raoni) são exemplos de vozes que estão tomando amplitude hoje em dia. Contudo, a voz dos povos indígenas ainda é muito marginalizada e sub-representada, por isso é preciso que busquemos cada vez mais ouvi-la. Acompanhar as redes sociais de grupos indígenas e escutá-los ativamente é uma ótima forma de ficar atualizado com a pauta.
7. Consuma com consciência
Atualmente, a produção agropecuária irresponsável, a mineração desenfreada, a geração de energia e a especulação imobiliária estão entre as maiores ameaças para os povos indígenas de todo o Brasil. Confira como as marcas que você costuma comprar tratam os direitos indígenas e em caso de dúvida, pergunte. O direito à informação, previsto no art. 6º, inciso III do Código do Consumidor, determina como direito básico do consumidor a obtenção de informação adequada sobre diferentes produtos e serviços, como a especificação correta de quantidade, as características, a composição, a qualidade, os tributos incidentes e o preço, incluindo os eventuais riscos que tais produtos ou serviços possam causar. Dessa forma, podemos sempre questionar o supermercado, açougue ou loja de materiais de construção de onde vem o produto que estamos consumindo. Se não ficarmos satisfeitos com a conduta da marca, devemos buscar alternativas.
8. Apoie os povos indígenas
Os povos indígenas foram sistematicamente silenciados, assassinados e marginalizados ao longo da história brasileira. Seguir os passos listados pode ser o início para que esse cenário mude, para que essas populações possam continuar reproduzindo suas culturas e tendo as oportunidades, espaço e voz que merecem. Considere apoiar o trabalho de organizações que atuam na defesa dos povos indígenas e na disseminação de informações contra os estereótipos. Muitas etnias têm suas próprias associações, enquanto diversas, outras agregam várias etnias e não-indígenas comprometidos com a pauta. O protagonismo da luta por direitos deve ser dos próprios povos indígenas, mas nossas atitudes e engajamento também são essenciais para garantir avanços.
Referências bibliográficos:
[1] Edmund Burke: filósofo, teórico político e orador irlandês
[2] População absoluta é o total de habitantes de um determinado lugar. Esse número é obtido por meio de levantamentos gerais da população e pela contagem de todos os habitantes de uma cidade, país ou região
[3] IBGE, Censo Demográfico 2010. Características gerais dos indígenas Resultados do universo, Rio de Janeiro: IBGE, 2012____ Indígenas, 2012
[4]https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2017-04/povos-indigenas-conheca-os-direitos-previstos-na-constituicao
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