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Sofia Groppo

Impactos da atividade mineradora na saúde ocupacional de seus trabalhadores

“Explosão em mina de carvão mata 11 e deixa 10 presos em subsolo”. Esta notícia de 16 de março de 2023, ocorrida em Sutatausa, na Colômbia, não é a única desse tipo que vemos corriqueiramente nos noticiários. “Seis mortos em explosão de mina no Cazaquistão” e “Número de mortes passa de 50 em explosão de mina na Rússia”, ambas notícias de 2021, e “Sobe para 41 número de mortos em explosão em mina na Turquia”, de 2022, são outros exemplos recentes de ocorridos similares ao da Colômbia.


Existem outros acontecimentos também fatais e recorrentes, mas que não aparecem nos noticiários com a mesma frequência. É o caso das doenças ocupacionais e dos acidentes de trabalho relacionados à mineração e ao beneficiamento da matéria extraída. Ao redor do mundo, são exemplos dessas doenças: silicose, asbestose, mercurose, fluorose, plumbismo, selenose, arsenicose, cadmiose, cânceres ocupacionais, febre amarela, malária, ancilostomose; de acidentes de trabalho, são exemplos: traumatismos, lesões, queimaduras, quedas, incêndios, mortes.


A mineração, segundo definição da ONU (Organização das Nações Unidas), compreende extração, elaboração e beneficiamento de minerais que se encontram em estado natural sólido (carvão, minérios[1]), líquido (petróleo) e gasoso (gás natural). Inclui a exploração de minas, subterrâneas ou não, pedreiras e poços e todas as atividades de preparo e beneficiamento do minério, a fim de torná-lo comercializável.


É graças à mineração que vivemos no mundo moderno e tecnológico atual. Segundo estimativas, cerca de 5,1 bilhões de pessoas possuem algum tipo de aparelho celular. Entretanto, o que elas não costumam ter consciência é a grande quantidade, na ordem de dezenas, de minerais e ligas metálicas presentes nos dispositivos (Figura 1). A maioria em pequena quantidade por unidade, mas que desempenha papéis essenciais em seu funcionamento.

Figura 1. Rochas mineradas para obtenção dos elementos gálio (bauxita), quartzo, calcopirita (cobre), terras-raras

A areia de sílica (quartzo), o potássio e o gálio constituem a tela de alta qualidade, o gálio e o germânio compõem os LEDs, o cobre é o principal condutor de calor e eletricidade, que tem seu caminho elétrico criado por tintas à base de prata, o quartzo e o tântalo fazem parte dos circuitos, o lítio é o principal elemento na bateria, o tungstênio atua como dissipador de calor e os elementos terras raras[2] produzem ímãs para alto-falantes e microfones.


Na mesma linha, os equipamentos para uso na medicina também contam com uma lista grande de minerais em sua estrutura. É o caso dos metais titânio, cobre, alumínio, platina, paládio, tântalo, cobalto e cromo, que compõem ligas metálicas para os mais variados usos (equipamentos cirúrgicos, implantes) e dos minerais radioativos, como urânio, polônio, tório e césio, empregados em máquinas de ressonância magnética, raios-X e cintilografia, além de radioterapia.


Os avanços na tecnologia oferecidos pela mineração também se deram no quesito de geração de energia. Existem países, como a França e o Japão, dependentes da energia nuclear, que utilizam como matéria-prima minerais radioativos, como o urânio. O Brasil, por outro lado, apresenta uma parcela de sua matriz energética dependente de carvão, em parte utilizado nas indústrias termoelétricas[3].


Diante dos exemplos citados, nota-se que a mineração permite o avanço da ciência, o conforto da sociedade, o aumento da expectativa de vida e a geração de energia. Entretanto, se a atividade mineradora não for feita dentro dos conformes de segurança estipulados por profissionais da área, as consequências dessa irresponsabilidade quem paga são os trabalhadores, pois ficam expostos às doenças e aos acidentes de trabalho, noticiados ou não.

Estudos comprovam que dentre os fatores de risco para acidentes e enfermidades estão as temperaturas extremas e trocas bruscas de temperatura, ventilação inadequada, exposição química a gases, vapores e partículas de poeira, manipulação de elementos mecânicos grandes e cargas pesadas, más posturas derivadas dos espaços confinados de trabalho, deficiências locais de infraestrutura, que podem causar explosões ou colapso da estrutura, ruído e vibração, condições higiênico-sanitárias deficientes e o manejo de águas não tratadas, intoxicadas.


É pauta desses estudos também a poeira gerada pela mineração. A de carvão pode gerar doenças pulmonares e cardíacas, isquemia[4] e intoxicação. Já a de sílica pode gerar silicose e a de asbestos[5] (Figura 2), ou amianto, utilizado no passado em fibrocimento e na confecção de telhas, pode causar asbestose, ambas doenças pulmonares.

Figura 2. Asbestos. Fonte: https://theconversation.com/health-harms-of-asbestos-wont-be-known-for-decades-14845

As outras doenças mencionadas anteriormente – mercurose, fluorose, plumbismo, selenose, arsenicose e cadmiose – são intoxicações por metais pesados ou tóxicos em grande quantidade: mercúrio, flúor, chumbo, selênio, arsênio e cádmio, respectivamente. Todos são subprodutos gerados pela mineração ou elementos utilizados no beneficiamento de algum minério. O mercúrio, por exemplo, é utilizado no beneficiamento do ouro e, no Brasil, faz milhares de vítimas por ano, já que as condições de trabalho não são ideais e o uso de EPIs (equipamentos de proteção individual) não é rigorosamente praticado.


Ressalta-se novamente a importância da mineração no mundo moderno e mais ainda a necessidade de que esta atividade econômica seja realizada por equipes profissionais, capacitadas e, sobretudo, responsáveis com os trabalhadores. As exigências de saúde, como saneamento básico, ventilação apropriada, uso de maquinários adequados e por pessoas capacitadas, água potável, uso de equipamentos de proteção individual e coletiva e infraestrutura planejada devem ser bem atendidas.



[1] minério mineral ou substância de valor econômico, como carvão, bauxita, areia, petróleo.

[2] terras-raras: grupo de 17 elementos químicos, 15 dos quais têm número atômico compreendido entre 57 e 71 (lantânio e lutécio, respectivamente), acrescidos de escândio e ítrio.

[3] usinas termoelétricas: usinas de geração de energia com base na queima de carvão para aquecer água, cujo vapor roda turbinas e gera energia elétrica.

[4] isquemia: falta de fornecimento sanguíneo para um tecido orgânico devido a obstrução causada por um trombo, seja ele formado por placas gordurosas ou por coágulos sanguíneos.

[5] asbestos: grupo de minerais constituídos por feixes de fibras. São eles: crisotila, grunerita, crocidolita, tremolita, actinolita e antofilita.





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