A família é uma instituição que está ligada à sociedade, que por sua vez, está em constante transformação. O arranjo tradicional de família gira em torno de um casal com seus filhos, onde o homem é o provedor, ocupando espaços públicos e intimamente ligado à força e inteligência; e a mulher assume um papel de reprodução e cuidado na família, devendo ser obediente e subordinada.
Contudo, após mudanças significativas no contexto social, foi possível verificar outras estruturas familiares – que, na verdade, sempre existiram, mas não estavam em evidência e sequer eram validadas. Essas estruturas acompanham a cultura pós-moderna e podem ser compostas por mães solo, pais homossexuais, apenas avós e netos, pais e mães que casaram-se novamente e tiveram outros filhos, etc.
É necessário salientar que, historicamente, o corpo e a vida da mulher foram controlados, sendo o casamento e a maternidade condições obrigatórias caso a mesma quisesse ter alguma função reconhecida e valorizada dentro da sociedade. Portanto, a conquista da autonomia sobre a vida sexual e reprodutiva representa uma subversão da lógica opressora imposta.
Vários fatores contribuíram para que a mulher pudesse assumir outros papéis, como por exemplo o avanço tecnológico e a Revolução Industrial, quando a mulher pôde sair de casa para trabalhar (ou se viu obrigada), gerando riquezas para a sociedade capitalista. Mas vejam bem, eram outras mulheres que assumiam os cuidados dos filhos e da casa, e quando as mesmas chegavam após a jornada de trabalho, tinham seus afazeres domésticos. Se pararmos para refletir, este modelo ainda impera sobre nós.
Com o avanço da luta feminista, adveio maior participação sócio-política da mulher, inclusive com direito ao voto, garantindo um impulso no início de uma garantia de direitos iguais.
Além disso, a pílula anticoncepcional significou uma revolução para a população feminina, que poderia ter a chance do controle voluntário da concepção, tendo mais poder de decisão sobre a maternidade e podendo exercer sua sexualidade de forma mais livre e despreocupada, vez que o sexonão significaria, necessariamente, reproduzir-se.
O direito ao divórcio também foi um marco, inclusive para novas configurações familiares, mesmo que a sociedade continuasse a enxergar a mulher divorciada com desdém.
Dando um salto temporal, em período de redemocratização, temos a Constituição Federal de 1988, onde é assegurado igualdade de direitos entre homens e mulheres. Ressalta-se que tal igualdade é meramente formal, vez que na prática ainda encaramos as tristes consequências de uma sociedade patriarcal: machismo, violência doméstica, assédio sexual, feminicídio...
A pandemia escancarou as desigualdades de gênero, sobretudo quando enjaulou mulheres com seus agressores e estigmatizou ainda mais o trabalho do cuidado. Sim, trabalho. Cuidar leva tempo, cansa, é emocionalmente desgastante e é tratado simplesmente como “amor”.
Embora seja perceptível o declínio da família tradicional - com mulheres exercendo um papel de chefes de família e sendo donas de si - na maioria das vezes, nos deparamos com uma sobrecarga cruel, onde responsabilidades antigas são somadas às novas. Quantas vezes não vimos homens e pais fazerem o mínimo e tais ações serem consideradas como “ajuda” à mulher?.
Pois bem. Devemos refletir, a partir de uma perspectiva de gênero, raça e classe, como ressignificar os papéis dos sujeitos das estruturas familiares, desestigmatizando as modalidades familiares contemporâneas e buscando um futuro livre e equânime para todes.
Referencias bibliográficas:
COSTA, Iria H.; ANDROSIO, Valéria O. As transformações do papel da mulher na contemporaneidade. SD UNIVALE. Disponível em: <http://www. pergamum. univale. br/pergamum/tcc/Astransformacoesdopapeldamulhernacontemporaneidade. pdf>. Acesso em 9 set. 2021, v. 20.
FINELLI, Leonardo Augusto Couto; DA SILVA, Jeanne Laís; DE ANDRADE AMARAL, Renata. Trajetória da família brasileira: o papel da mulher no desenvolvimento dos modelos atuais. Humanidades, v. 4, n. 2, p. 52-60, 2015.
NARVAZ, Martha Giudice; KOLLER, Sílvia Helena. Famílias e patriarcado: da prescrição normativa à subversão criativa. Psicologia & Sociedade, v. 18, p. 49-55, 2006.
OUTRAS PALAVRAS. O cuidado e o feminismo em tempos de pandemia. Disponível em: https://outraspalavras.net/feminismos/o-cuidado-e-o-feminismo-em-tempos-de-pandemia/#sdfootnote2sym. Acesso em: 9 set. 2021.
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