A ocupação do território latino americano foi importante para a construção da riqueza europeia. Esta construção foi possibilitada perante o julgamento dos escravizadores sobre os nativos, que exigiam o desenvolvimento de teorias que justificassem a colonização. Deste modo, os debates que surgiram mobilizaram discussões que questionavam se a população que aqui vivia deveria ser escravizada. Sepúlveda, por exemplo, defendeu que os indígenas (por ele, considerados bárbaros) deveriam ser explorados. Todavia, o julgamento de inferioridade não se manteve restrito aos indígenas, englobando também os negros africanos.
A partir do final do século XIX até meados do século XX, as reflexões latino americanas estiveram permeadas por dois pontos centrais: raça e nação. Nessa época, o conceito de raça era pautado em questões biológicas. A principal consequência deste fato era a visão de que o negro seria uma raça inferior quando comparado aos brancos.
A naturalização de inferioridade encontrou justificativa em teorias científicas, como, por exemplo, na antropologia criminal, tendo como forte influente no Brasil, Nina Rodrigues, e o darwinismo social. Com isso, as desigualdades sociais e raciais eram justificadas tendo como base marcadores físicos, em que a miscigenação era vista como capaz de ocasionar o pior dos males sociais.
O processo de racialização não ficou restrito apenas à população indígena e aos negros africanos. A elite brasileira, no final do século XIX, almejava que o país se tornasse tão moderno quanto os países europeus. A partir disso, o branqueamento da população era necessário. Na mentalidade de alguns brasileiros a presença de uma expressiva população miscigenada era a responsável por gerar atrasos ao país, sobretudo, econômicos [1].
A imigração de japoneses em direção ao Brasil ocorreu de forma intensa no início do século XX. As motivações para esse processo partiram de necessidades de ambos os países. Por um lado, o Japão precisava aliviar a forte tensão social do país e, por outro, o Brasil mostrava-se carente de mão de obra nos cafezais.
Contudo, esta imigração não era vista com aceitação pela população, pois o futuro desejado era o de uma população que passasse pelo processo de branqueamento.
A partir disso, alguns intelectuais e políticos brasileiros, influenciados pelos debates raciais, amedrontavam-se com a possível poluição racial ocasionada pela inserção dos japoneses no Brasil, que poderia tornar inviável a formação de uma raça brasileira ideal. Alguns abolicionistas, por exemplo, caracterizaram este grupo como neoescravos. Políticos como Miguel Couto fez a utilização de discursos eugenistas1 para sustentar suas ideias contra a imigração japonesa.
Esta mesma questão antinipônica2 se fez presente nos EUA, sobretudo no período entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Os japoneses eram vistos como ameaça, principalmente após os ataques em Pearl Harbor, quando passaram a ser ainda mais racializados, onde a utilização de termos como colored buscava desqualificá-los.
Neste período, era bastante comum o compartilhamento de informações/notícias na imprensa brasileira que estereotipavam os japoneses a partir de recursos iconográficos (imagens). O objetivo da utilização destas imagens era expressar, a partir de metáforas, o perigo japonês para a população em geral.
No transcorrer da Segunda Guerra Mundial, as ofensas com as quais os imigrantes japoneses se defrontavam eram numerosas. Nas cidades, geralmente, era comum se referir a eles com denominações como “pata de vaca” e “cara de macaco”.
Desta forma, é notável que, assim como africanos e indígenas foram marginalizados e considerados inferiores do ponto de vista eurocêntrico, os japoneses também passaram por esse processo de animalização e racialização.
Como sugestão de complemento a leitura, recomendo o documentário “Perigo Amarelo” disponível no seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=YUYECJkEET4.
1Segundo o dicionário Michaelis, a eugenia pressupõe o aprimoramento da espécie humana a partir de uma seleção pautada em questões genéticas.
2Aversão aos japoneses.
Referência Bibliográfica:
[1] TAKEUCHI, Marcia Yumi. A comunidade nipônica e a legitimação de estigmas. REVISTA USP, São Paulo, n.79, p. 173-182, setembro/novembro 2008.
Коментарі