Antes de mais nada, é preciso considerar a seguinte concepção do sociólogo alemão - Karl Marx: o ser humano (denominado por ele como ser social) só existe a partir do trabalho, e o trabalho nada mais é do que uma relação do homem com a natureza. Sendo assim, para que o homem possa existir, ele precisa da natureza.
Embora essa relação do homem com a natureza seja essencial para a sua existência, podemos observar, nas últimas décadas, um processo de exploração exacerbado e irresponsável do meio ambiente, pois a humanidade tem tido um vínculo parasitário com os elementos naturais, causando ao meio ambiente danos quase irreversíveis. O Brasil, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), encerrou o ano de 2020 com o maior número de queimadas da última década. Isso mostra um grande retrocesso no enfrentamento da questão ambiental, o qual apresenta cada vez mais uma necessidade de se atuar em espaços de defesa do meio ambiente.
Segundo o dicionário, ativismo é a “transformação da realidade por meio da prática”, isto é, ações que geram uma determinada mudança na sociedade. O ativismo ambiental em si é um termo utilizado para designar a atuação em defesa de inúmeras causas ambientais, como a proteção das terras indígenas e dos recursos naturais contra a exploração capitalista exacerbada e ilegal.
No Brasil, a questão ambiental passou a ter maior relevância a partir da década de 1990, tendo em vista a necessidade de aprovar e especificar os compromissos assinados pelo país durante a Segunda Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92 ou Eco-92, que ocorreu no Rio de Janeiro em 1992 e impulsionou a elaboração de uma Agenda comprometida com as causas ambientais, a Agenda 21. De acordo com dados governamentais, a Agenda 21 nada mais é do que “um plano de ação abrangente a ser assumido em nível global, nacional e local, por governantes e principais grupos, em todas as áreas nas quais há impactos da atividade humana no meio ambiente”.
Mas se o Brasil é um país comprometido com a defesa do meio ambiente, por que ele ocupa o 3° lugar no ranking dos países que mais mata ativistas ambientais no mundo? Segundo o ambientalista e coordenador do Fórum Clima Salvador, Virgilio Machado, “O ativismo no Brasil se dá numa zona de conflito da proteção dos ecossistemas e dos interesses coletivos versus o interesse por lucros exorbitantes de alguns poucos através da exploração da riqueza do solo que resulta sempre em degradação para o restante da sociedade – poluição do ar, de rios, do mar, perdas de espécies da fauna e flora, redução de áreas agricultáveis, aquecimento global e mudanças climáticas, para citar alguns exemplos”.
Vivemos em um mundo cuja lógica capitalista de obtenção de lucro por meio da exploração da natureza se dá de modo constante e para privilegiar uma determinada classe social. O Brasil, enquanto país capitalista e caracterizado como produtor e reprodutor de desigualdades, não foge à essa lógica. Afinal, o desmatamento beneficia classes que lucram com isso, considerando que esses crimes acontecem justamente em áreas de preservação ambiental, a fim de expandir ilegalmente a área de exploração agropecuária.
Além disso, é inegável que estamos vivendo um momento de regresso no âmbito ambiental, levando em consideração a evidente negligência estatal. Prova disso é a fala do presidente da república, Jair Bolsonaro, na Assembleia na Organização das Nações Unidas (ONU), onde ele afirma que o Brasil é "referência em preservação ambiental" e culpabiliza os povos indígenas pelas incêndios na floresta, mesmo com a análise dos focos de calor no território afirmando que as queimadas tiveram origem em fazendas de pecuaristas. “O aumento dos crimes ambientais no nosso país nos últimos anos é um reflexo da política de Bolsonaro. A todo momento ele incentiva os crimes ambientais, ri dos incêndios no país e seus ministros, de agricultura e meio ambiente, atuam para 'passar a boiada'. Retirou a fiscalização e as políticas ambientais da agenda. O cenário que nunca foi fácil, hoje é caótico. A política de Bolsonaro está levando o país ao colapso e se não for barrado é um caminho sem volta. Na Amazônia, por exemplo, estamos alcançando o que foi nomeado pelos cientistas de Turning Point (ponto de virada ou ponto de não retorno). É quando se atinge a fronteira de desmatamento que leva o bioma a uma mudança de fase e de seus fluxos naturais. A Amazônia se transformará em uma savana. É uma mudança drástica que provocará uma redução da precipitação (chuvas) numa área da América do Sul (incluindo Estado de São Paulo) que responde por 70% do PIB de todos estes países.”, é o que afirma Virgilio.
Dessa forma, podemos concluir que a luta pela preservação do meio ambiente é uma luta de enorme relevância social, pois, se para existirmos em sociedade precisamos da natureza, é preciso que a defesa pela preservação ambiental seja uma preocupação coletiva, ainda que no Brasil, segundo Virgilio, seja um ato de coragem. “Eu tenho a sorte de atuar mais a partir do ambiente urbano em que temos mais instrumentos de defesa. Além disso, procuramos não nos expor individualmente, a dica é falar como grupo. No campo, a luta é perigosa porque este poder econômico que é composto por criminosos se sente menos vigiado e tem maior controle da política nestas áreas mais afastadas que é onde estão as nossas maiores riquezas naturais.”
Por fim, termino esse artigo com um trecho do último episódio da minissérie brasileira “Aruanas”, a qual relata as dificuldades e os perigos de se ser um ativista ambiental no Brasil: “Ninguém solta a mão de ninguém. No Brasil a cada três dias um ativista é assassinado. Irmã Dorothy Stang, Valdemir Resplandes, Terezinha Rios Pedrosa. A gente segue essa luta com vocês! Francisca das Chagas Silva, Silvino Nunes Gouveia, Edson de Souza, Edmilson Pereira dos Santos, a gente tá com vocês. Luis Vieira Lima, Katia Martins, Luís Carlos Bardon, Marielle Franco. José Cláudio Ribeiro, Maria do Espírito Santo. Edilene Mateus Porto, Ana Cláudia Barros, Mauricélia da Silva. Cacique Antônio José Mig Claudino, Ítalo Eduardo de Lins Barros, Rosemiro Soares de Souza, Manoel Índio Arruda e Chico Mendes! Vocês não morreram, vocês viraram sementes!”
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