Caros Srs. e Sras. da comunidade esalqueana, especialmente ao prof. Dr. Roberto, prefeito do Campus e as assistentes sociais do mesmo. Essa é uma carta aberta elaborada em sua totalidade pelos moradores da Casa do Estudante Universitário (CEU) que buscam legitimamente melhorias nas condições alimentares dentro da Gloriosa, que se orgulha de estar no top 5 das melhores universidades de ciências agrárias do mundo, em um país movido majoritariamente pelo agronegócio.
Atualmente moram na CEU, moradia estudantil do campus, mais de 100 estudantes os quais utilizam como únicas possibilidades de sustento da sua graduação, os benefícios de vaga na moradia estudantil e auxílio alimentação disponibilizados a partir da análise socioeconômica pelo Programa de Permanência e Formação Estudantil da USP (PAPFE), além de uma renda mensal de R$ 500,00 (quinhentos reais) proveniente do Programa Unificado de Bolsas (PUB) em projetos de pesquisa ou extensão, em alguns casos.
É urgente que essa instituição de ensino e todos os envolvidos em sua organização saibam qual a real situação das pessoas que estão na ESALQ, dependendo exclusivamente dos benefícios do PAPFE. Há um grande número de moradores da CEU em situação de vulnerabilidade socioeconômica e principalmente de insegurança alimentar. Dependentes da marmita fornecida pelo restaurante universitário durante a semana, muitos de nós da moradia comem apenas duas vezes ao dia (marmitex de almoço e janta), e durante os finais de semana ficamos ao sabor da sorte, contando com a ajuda de amigos também em situação de vulnerabilidade.
O Serviço Social do Campus Luiz de Queiroz foi informado diversas vezes sobre nossa situação, contudo, não obtivemos resposta ou ajuda suficiente para solucionar a situação, seja por falta de empatia ou por ignorância da gravidade da situação, não sabemos especificamente. Todavia, a fome não espera por decisões burocráticas, e o ensino na USP não espera. O semestre já está em andamento, com todas as suas aulas, atividades, provas e trabalhos. Muitos professores não conhecem nem entendem esse grave problema que está acontecendo. É humanamente impossível manter o alto nível de dedicação e produtividade exigidos pela ESALQ sem as mínimas condições de alimentar-se dignamente todos os dias. Quem tem fome não pensa em mais nada além da fome, e assim não consegue estudar, não consegue ir às aulas, não consegue viver. E, por mais que essa seja uma realidade desconhecida pela a ESALQ até muitíssimo pouco tempo, é urgente e necessário que a instituição se atente e interceda pelos estudantes em situação de vulnerabilidade.
Diante da gravidade de nossa insegurança alimentar, comunicamos por meio desta carta que a Casa do Estudante Universitário decidiu, em Assembleia Geral Ordinária, realizar uma manifestação no dia 08/04 (sexta-feira) durante o almoço, em frente ao prédio de nossa casa, amparados pela Lei N°5250/67, a qual nos garante o direito à livre manifestação de pensamento. Buscamos garantir o acesso a alimentação nos finais de semana, o oferecimento de café da manhã, para os estudantes em situação de vulnerabilidade, e melhoria na qualidade das marmitas do RUCAS. Mas, acima de tudo, reivindicamos por um Programa de Permanência e Formação Estudantil mais eficiente e digno, que não ignore a fome e todas as outras dificuldades que os membros da CEU, e todas as outras pessoas que se sentem aqui representadas, enfrentam.
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