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Dafne Mordente Sotiropoulos

Cindy Sherman: Uma Revolução na Fotografia

Considerada uma das artistas mais importantes da atualidade e um marco para a arte

contemporânea, Cindy Sherman possui uma vasta produção focada na fotografia, além

de relevantes trabalhos cinematográficos. Iniciou sua carreira na década de 1970,

ganhando notoriedade por fazer retratos de si mesma com discussões sobre os papéis

impostos às mulheres. Permanecendo em atividade até hoje, suas obras se tornaram

referências e percorrem diversos acervos e exposições importantes pelo mundo.


Nascida em 19 de janeiro de 1954, na cidade de Glen Ridge (Nova Jersey, EUA), seus

pais se mudaram logo em seguida para Huntington (Long Island, Nova Iorque, EUA),

passando sua infância na ilha e crescendo no lugar. Desde pequena, Sherman

apresentava atitudes e gostos que refletiram na sua vida adulta. Ela tinha fascínio pelo

universo televisivo, principalmente em relação a maquiagens e seu poder de fazer

disfarces. Também gostava de vestir roupas de sua avó, procurando parecer-se com

pessoas mais velhas e até mesmo com monstros. Além disso, nessa mesma fase, teve

sua interação inicial com a fotografia, ganhando de seu pai, aos 10 anos de idade, uma

Brownie Camera, câmera muito popular entre as crianças da época. No entanto, o gosto

pelas artes se deu de fato com o desenho, o que provavelmente a motivou anos depois a

se matricular em Artes Visuais.


Em 1972, ingressou na Buffalo State University, em Nova Iorque. No começo do curso,

os estudos de Cindy eram dedicados a pinturas e desenhos realistas. Entretanto, sentiu-

se frustrada, alegando que apenas copiava trabalhos de outros e que não tinha mais

nada a dizer com esses meios, compreendendo que não eram as melhores formas de se

expressar. Frente a isso, foi profundamente marcada pelas aulas da artista Barbara Jo

Revelle (1946), tendo contato com arte conceitual e percebendo que a técnica

fotográfica era tão relevante quanto o conceito das imagens, se interessando, portanto,

pela fotografia.


Depois de terminar a faculdade, mudou-se oficialmente para Nova Iorque. Ao estar

diante dessa realidade da cidade grande, Sherman se chocou com a movimentação e a

maneira com que as pessoas a tratavam. Assim, como um escape para seus momentos

de depressão e buscando se sentir mais confortável ao andar pelas ruas, criou

personagens e alterou características de sua aparência.


Esse tipo de ato refletiu em suas obras, como na série “Untitled Film Still” (1977-

1980). Formada por 69 fotografias em preto e branco, teve como inspiração o cinema

europeu e norte-americano de 1950 e 1960. Com auxílio de vestimentas, maquiagens,

perucas e poses, interpretou personagens de maneira performática, baseados em

estereótipos femininos nutridos pela mídia hollywoodiana.


“Untitled Film Still #11” (1978) | série “Untitled Film Still” (1977-1980)

Após finalizar o projeto, entrou em uma nova fase de sua carreira. Trazendo cor aos

registros, produziu “Centerfolds” (1981). Composta por 12 enormes fotografias, a grande escala impressionou espectadores da época, proporcionando uma experiência de imersão no espaço fotográfico. Dispostas na horizontal, faziam referências às revistas eróticas, de modo que a artista assumia o papel do masculino e feminino, expressando emoções que caminham entre o susto, raiva, tristeza, divagação e sonhos. As imagens geram desconforto, como se o público fosse flagrado vendo algo que não deveria.


“Sem título #96” | série “Centerfolds” (1981)

Durante esses anos de 1980, também elaborou críticas ao universo da moda e aos padrões de beleza. Com vontade de ampliar suas capturas e incorporar elementos novos, começou a utilizar manequins, bonecos e próteses. E, por ser apreciadora de filmes de terror, esse horror se tornou juntamente presente.


"Sem título #264" | série “Sex Pictures”

Na década seguinte, sua participação como objeto artístico foi reduzida, dando ênfase

às peças artificiais que já vinha se apropriando. Com isso, trouxe temas relacionados à sexualidade e às visões tradicionais sobre corpos humanos, como visto em uma de suas séries mais polêmicas, “Sex Pictures" (1992). Utizando manequins montados de forma híbrida, fez composições pseudo-pornográficas com o objetivo de enfrentar suas próprias sensações ligadas ao sexo, pornografia e imagens eróticas.


Outro exemplo é “Black & White" (1999), uma sequência em preto e branco, formada por bonecos Barbie, G.I. Joe, personagens da franquia Disney e brinquedos com estereótipo “gay”. Essas figuras sofreram derretimentos, cortes, mutilações, desmembramentos e reconstruções, acarretando, consequentemente, em deformações, o que resultou em um trabalho agressivo, expondo a violência perante a sexualidade.

“Sem título #335” | série “Black & White” (1999)

Nos anos 2000, retomou o papel de modelo em seus retratos. Nesse momento, discutiu tanto o medo quanto o envelhecimento. Em “The head shots” (2000-2002), exibe faces de mulheres entre 40 a 50 anos, glamourizando a esperança do sucesso em Hollywood e ironizando preconceitos etários.


Com o aumento das tecnologias e popularização das redes sociais na atualidade, Cindy passou a explorar selfies. Desde 2017, publica em seu perfil no Instagram imagens que acentuam a distorção e a superficialidade vistas nesses espaços digitais. Ela edita trabalhos com aplicativos do celular, como o Facetune, que possibilita a modificação do formato do rosto, e o Perfect365, que permite maquiar-se digitalmente. A partir deles, altera exageradamente sua imagem, deixando a fisionomia humana extremamente retorcida e distante da realidade.




Ao longo dos quase 50 anos de carreira, usou do autorretrato para criar performances e personagens que criticaram a mídia de massa e consequentemente o olhar subjetivo do masculino, sem necessariamente possuírem sentido autobiográfico. Sua forma satírica e irônica de abordar variados temas, abriu portas para debates sobre a figura da mulher e sobre mulheres na fotografia. Sua ousadia mudou os rumos da história da arte e segue sendo um exemplo vivo para futuras artistas. Sua postura foi e permanece sendo revolucionária.




Referências Bibliográficas:


BURTON, Johanna; RESPINI, Eva; WATERS, John. Cindy Sherman. The Museum

of Modern Art, New York, 2012. Disponível em:

<https://books.google.com.br/books?id=GfKl1uCwq0C&printsec=frontcover&hl=pt-

BR&source=gbs_atb#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 13 de mai. 2021.


FÁBIO, André. Cindy Sherman abre seu Instagram. Nexo Jornal, 15 de mai. 2017.

Disponível em: <http://www.canalcontemporaneo.art.br/brasa/archives/007719.html>.

Acesso em: 13 de mai. 2021.


GLASSCOCK, Jessica. Bridging the Art/ Commerce Divide: Cindy Sherman and

Rei Kawakubo of Comme des Garçons. Grey Art Gallery NYU. Disponível em:

<https://greyartgallery.nyu.edu/2015/12/bridging-the-artcommerce-divide-cindy-

sherman and-rei-kawakubo-of-comme-des-garcons/>. Acesso em: 10 de mai. 2021.


LICHTENSTEIN, Therese. Sex pictures (1992) - Cindy Sherman. Hybrid utterance.

Disponível em: <https://hybridutterance.wordpress.com/2010/04/09/sex-pictures-1992-

cindy-sherman/>. Acesso em: 09 de mai. 2021.


VARELLA, Paulo. Cindy Sherman e a crítica ao mundo da mídia. Arte Ref, 26 de

jul. 2020. Disponível em: <https://arteref.com/arte-no-mundo/cindy-sherman-e-a-

critica-ao-mundo-da midia/>. Acesso em: 11 de mai. 2021.

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