Indochina
“A França sempre relutou em confrontar seu próprio passado; ‘amnésia’ é uma palavra frequentemente utilizada ao se referir à colonização e descolonização” - ROLLET, Brigitte. Identity and Alterity in Indochina (Wargnier, 1992).
O filme Indochina é um épico[1] romântico dirigido pelo cineasta Régis Wargnier. A história se passa na Indochina[2] dos anos 30 aos 50, quando a região (atual Vietnã) era ocupada pelos franceses e o cenário do local se mostrava instável por conta dos movimentos de independência locais.
A guerra de independência e luta anti imperialismo europeu será o pano de fundo de toda a ação que se centraliza na grande proprietária de terras francesas, Eliane, que inicialmente tenta manter sua postura europeia em meio aos confrontos de guerra na região. No entanto, quando sua filha adotiva, Camille, se apaixona pelo mesmo homem que ela, o comandante da marinha francesa, Jean-Baptiste, um drama familiar coloca em jogo a defesa européia de Eliane, principalmente, quando sua filha se envolve com os rebeldes pró-independência. Dessa maneira, o filme desenvolve um jogo entre o privado e o político, entre o pessoal e o histórico.
Batalha De Argel (disponível no Youtube)
"Começar uma revolução é muito difícil. Mas, mais difícil ainda é continuá-la, e, o pior de tudo, é vencê-la. Mas é depois, quando tivermos vencido é que começarão as reais dificuldades. Ou seja, há muito a fazer.”
O filme Batalha De Argel, dirigido por Gillo Pontecorvo, narra os eventos decisivos da guerra pela independência da Argélia (1962). O roteiro do filme se baseia nos fatos ocorridos durante o período entre 1954 e 1962, pós Segunda Guerra Mundial.
Filmado todo em preto e branco, o filme conta um pouco da história do país norte africano, que tem como capital a cidade de Argel, Argélia: que fora dividida pela França, sua colonizadora, responsável por dividir a população do país entre pessoas com descendência europeia (franceses) e os mulçumanos argelinos. Como consequência, gerou-se a desigualdade e a separação entre classes sociais, pois o primeiro grupo (“franceses”) tinha o apoio e a segurança do Estado, podendo desfrutar dos melhores locais na cidade, enquanto que o segundo grupo (“muçulmanos argelinos”) não possuía nem o direito ao voto, algo que é demonstrado durante o filme.
Em razão dessa desigualdade e opressão que o povo argelino mulçumano sofre, cria-se o grupo de oposição ao Estado, imperializado pelos franceses, denominado Frente de Libertação Nacional (FLN), que se organiza e faz ataques terroristas, do ponto de vista francês, nos bairros habitados pelos franceses para conquistar a liberdade do país. No entanto, essa ação gera um contra ataque do exército francês, que começa uma campanha de tortura e assassinatos. Desse modo, o filme compõe um cenário político que leva o espectador a visualizar tanto o mecanismo de guerrilha quanto o de anti-guerrilha, uma vez que ambos os lados são igualmente descritos de maneira didática.
Diário de Motocicleta
“Os Incas conheciam astronomia, cirurgia no cérebro, matemática entre outras coisas. Mas os invasores espanhóis tinham a pólvora.”
O filme Diários De Motocicleta é um road movie (filme de estrada)[3] dirigido pelo cineasta brasileiro Walter Salles. Baseado em fatos reais, bem como no livro “De Moto Pela América Do Sul” de Ernesto Che Guevara, o filme aborda a viagem de Che e seu amigo Alberto Granado ao Sul da América, começando pela Patagônia e indo até um hospital de pessoas com hanseníase[3] (também conhecida por Lepra), localizado na Amazônia peruana. Os dois amigos começam a viagem em uma motocicleta apelidada de “A Poderosa”, no entanto, a mesma acaba com papel secundário no filme, já que ela quebra após 8 meses de viagem. Dessa maneira, os dois se veem obrigados a seguir a viagem por meio de caronas e caminhadas. Os cenários do filme são recheados com as características dos lugares em que a viagem acontece, assim, o espectador pode ver as populações nativas, resquícios da colonização, cultura, composição étnica, fatores econômicos e aspectos físicos, como relevo, hidrografia e vegetação.
A estrada em que o filme se ambienta é tem algo a demonstrar: uma jornada pela América Latina que escancara as semelhanças dos problemas sociais e políticos entre os países Latino-Americanos, e revela como a realidade brasileira está mais próxima desses países do que dos Estados Unidos, afinal, somos Latinos. Além disso, o filme coloca em evidência os problemas causados por anos de colonização e imperialismo europeu e norte-americano, a exemplo da exploração por meio da mineração no Peru.
O longa-metragem traz o despertar da consciência social de Che Guevara que, consequentemente, desencadearia sua consciência política e luta armada frente ao imperialismo nos países da América-Latina, e pela defesa da libertação do operariado[5] contra a burguesia[6], que vive da exploração da classe trabalhadora dos povos; a exemplo dessa política de Che Guevara temos a Revolução Cubana[7].
[1] Épico: É um relato, em versos, de uma ação ou um evento histórico de caráter heróico.
[2] Indochina: É uma região do Sudeste Asiático situada entre o leste da Índia e o sul da China. O termo foi criado pelos franceses para designar parte do seu império colonial constituído pelos atuais Vietnã, Camboja e Laos.
[3] Filme de Estrada: Gênero cinematográfico no qual o personagem principal sai para uma viagem, normalmente alterando a perspectiva de sua perspectiva cotidiana. Filmes desse gênero exploram temas de alienação e examinam tensões e questões da identidade cultural de uma nação ou período histórico.
[4] Hanseníase: A hanseníase é uma doença crônica, causada pela bactéria Mycobacterium leprae, que caracteriza-se por alteração, diminuição ou perda da sensibilidade térmica, dolorosa, tátil e força muscular, principalmente em mãos, braços, pés, pernas e olhos e pode gerar incapacidades permanentes.
[5] Operariado: brevemente é resumida como a classe social construída pelos trabalhadores.
[6] Burguesia: brevemente é resumida como a classe social que possui os meios de produção no sistema capitalista.
[7] Revolução Cubana: Foi um movimento armado de guerrilha que culminou na destituição do ditador Fulgencio Batista e rompeu com as ações imperialistas dos EUA sobre o território cubano no dia 1 de Janeiro de 1959. A revolução foi liderada pelo revolucionário Fidel Castro, tendo a participação de Che Guevara como um dos braços direito do líder. Nesse período, a consciência política de Che Guevara já havia sido despertada e sua participação na luta anti-imperialista na América Latina e África, o levou ao seu importante papel histórico na Revolução Cubana e em sua atual posição como figura histórica anti-imperialista.
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