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Giovanna Pecorari Coelho

Succession: as reflexões de um fim maestral da história corporativa familiar de bilionários

Há muito tempo eu não ficava tão vidrada numa série como nesta temporada final de

“Succession” (2018-2023). Temporada que encerra de maneira maestral uma história

familiar, cheia de drama, comicidade e intensidade, a qual, com certeza, levará diversos

prêmios, do roteiro às excelentes atuações que a dão vida. Ela parece de fato ter sido regida

por um maestro, com músicos extremamente afinados, com muitos anos de experiência

tocando a magnífica trilha sonora da própria série ao fundo.


Religiosamente, todos os domingos, às 22 horas, passei a aguardar o lançamento de um novo

episódio, me recordando da época que não tínhamos maratona de séries e era comum viver

um processo quase de degustação: passávamos a segunda-feira discutindo o episódio do

domingo e uma semana aguardando o próximo. Eu particularmente gosto muito desse sistema

retomado pela HBO, que me permitiu acompanhar em tempo real os calorosos comentários e

o surgimento de teorias nas redes sociais para o próximo sucessor, principalmente no Twitter.

Para quem caiu aqui de paraquedas e nunca assistiu ou ouviu falar da série, Jesse Armstrong

conta a história da família Roy, mais especificamente narrando como o patriarca e CEO Logan Roy (Brian Cox) planeja - ou não - a sucessão do seu império de mídia e entretenimento, a Waystar Royco, uma empresa familiar. Durante as suas quatro temporadas, observamos seus filhos adultos, Kendall (Jeremy Strong (1978-), Shiv (Sarah Snook (1987-), Roman (Kieran Culkin (1982-) e Connor (Alan Ruck (1956-), lutarem para serem muito mais do que o próximo sucessor (CEO) da fictícia líder global de mídia (inspirada na história da própria Fox News), já que eles buscam constantemente por atenção e reconhecimento do pai, como se fossem crianças em busca de validação e aprovação.


Fonte: HBO
Imagem de divulgação da última e quarta temporada/ Fonte: HBO

A série tem um toque de comicidade e diversas vezes nos recorda características de The Office (2005-2013), com o seu tom documental e câmeras que focam o tempo todo nos rostos, a fim de captar as reações em tempo real dos personagens. Tudo é feito para se assemelhar a realidade e esses elementos são essenciais para entonar as bizarrices desse mundo corporativo de bilionários excêntricos, que mesmo com atitudes duvidosas e muitas vezes nada éticas, conseguem conquistar o afeto e apego do público, que literalmente passa a torcer pelos personagens e frequentemente levantava hashtags, como “#teamshiv”, “#teamkendal”, ou “#teamroman”.


Apesar de tudo ser feito para parecer muito verdadeiro e a história ilustrar o mundo real, os

filhos Roy passam por vergonhas catastróficas, cometem erros e tomam atitudes que nos

fazem questionar o quão distante da realidade esses bilionários de fato estão. A frieza e

audácia de Logan dá calafrios em nós e nos filhos, tudo para ele parece poder ser resolvido

num estalar de dedos - tudo menos a questão do próximo sucessor e CEO desta empresa

familiar. Como espectador, muitas vezes suamos frio, outras ficamos sem ar, com uma

vergonha colossal, são tantos os sentimentos que só assistindo para entender.


Mas um fato fica claro, a série termina bem, não somente pelo seu desfecho e por encerrar no

momento certo, mas por todo o escopo da última temporada, que é impecável e possui

diretores que dão os tons necessários para a temática de cada episódio e as atuações dos

atores que representam o integrantes da família. É preciso destacar um episódio em particular

(sem spoiler!), o terceiro (não pesquise sobre ele se você ainda não assistiu a temporada ou

quer começar a série), em que tudo desaba, se atinge o ápice e é dado o choque necessário

para o fim desta narrativa. Uma narrativa que, por ser tão distante da nossa realidade, tinha

tudo para ser vazia de humanidade, mas esta se faz presente em cada olhar, ato falho e fala

das personagens. Isso faz com que a audiência se conecte e se apegue a essas personalidades

nada agradáveis e extremamente questionáveis, levando-nos a se perguntar sobre nossa

própria humanidade. Nós ficamos submersos, assim como nas cenas do Kendal na água,

parecemos afundar nessa história ao mesmo tempo que perdemos nosso fôlego.


A série se despede, deixando uma sensação de luto nos espectadores e uma reflexão atual

sobre ganância, moralidade e a busca implacável por poder e atenção. Terminamos com um

sentimento contraditório de "gostar desgostoso", uma emoção frequente ao longo de todas as temporadas. Ficamos com o desejo de querer mais dessa história, mesmo sabendo que o encerramento foi o necessário para a narrativa construída ao longo desses anos e que ele foi

perfeito, mesmo sem ser perfeito. Afinal, será que o final perfeito existe?


Este final, no momento adequado, nos deixa com uma certeza: não há dinheiro no mundo que

possa pagar o que os filhos de Logan Roy realmente buscavam. No fundo, talvez a sucessão

da Waystar Royco nem seja o centro da série.

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