No dia 14 de julho de 1991, nascia, em Jaboatão dos Guararapes (PE), Gilberto José Nogueira Junior, o nosso Gil do Vigor. Quando nasceu, foi rejeitado por seu pai, Gilberto Nogueira, pelo motivo de não ter a mesma cor que o pai que, inclusive, acusava a esposa de traição e a agredia na frente das crianças, contou dona Jacira Santana ( mãe de Gil) ao jornal Extra. O pai, além de agressor, era usuário de drogas e, por estes motivos, se separou da família. Na época, Gil tinha apenas quatro anos, então Jacira teve que assumir todas as responsabilidades da casa e se desdobrar para cuidar dos seus três filhos: Gil, Juliana e Janielly.
Com uma origem humilde e complicada, aos dez anos, Gil entrou para a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, e lá dedicou-se à causa por um longo período. Durante sua participação no Big Brother Brasil, ele contou que não aceitava sua sexualidade, e que, durante as missões religiosas, ele tentava imitar o comportamento dos homens héteros, para tentar se encaixar. Essa insegurança, infelizmente, é a realidade de muitos LGBTQIA+, segundo um estudo feito em 2016 pela Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), cerca de 60% dos jovens homossexuais sentem-se inseguros na escola, isso se dá ao fato de que "73% dos que responderam à pesquisa afirmaram já terem sido agredidos verbalmente, e 36% que foram agredidos fisicamente".
Gil cresceu dentro de uma igreja evangélica, onde deveria encontrar apoio, mas sofreu com doutrinas homofóbicas. Em uma conversa sincera, durante o reality, ele contou: "Na Bíblia estava escrito que era pecado um homem se deitar com outro. Que Deus não aceitava isso. Durante muito tempo achei que Deus não ia me amar por eu ser bicha. Então, eu sei o que isso representa para muitos como eu. Estar aqui no ‘Big Brother’”.Gil encontrou nos estudos a força para superar suas dificuldades, ele dividia seu tempo entre a igreja e a escola, e quando completou quinze anos, começou seu primeiro emprego como auxiliar de garçom, para ajudar nas contas de casa. Ele buscava um futuro promissor para sua mãe e suas irmãs.
Essa vontade de ajudar a família, era algo que Gil tentava há algum tempo, quando tinha 13 anos insistiu para ser modelo, mas, como a família não tinha dinheiro para roupas e fotos, ele emprestou de um amigo e se inscreveu em um concurso. Ele até tentou usar isso para se aproximar do pai, porém, Jacira contou ao jornal Extra a reação do pai: “O pai disse que era coisa de bicha, que Gil era uma vergonha para ele. Aí, já viu, né”. Desde então, Gil não teve mais contato com o pai. E só agora, quinze anos depois, eles se reencontraram. No instagram, o ex-BBB publicou uma foto com o pai e escreveu: "O reencontro aconteceu! Te amo, meu pai, e obrigado por seu amor e por estarmos felizes como família".
Foi nos estudos que ele encontrou um refúgio. Gilberto sempre ficava até mais tarde na escola, aprendendo matemática. Ele se esforçou por muito tempo para passar no vestibular, e durante as primeiras semanas na casa mais vigiada, Gil relatou aos participantes que foi desencorajado antes da prova: “Um homem aleatório no trabalho disse assim: ‘Por que você não pede bolsa no pré-vestibular?’. Aí eu disse: ‘Mas eu nem fiz a prova ainda’. Ele disse: ‘Mas tu não vai passar. Consegue uma bolsa no pré-vestibular, que ano que vem tu passa. Aquilo me fez perceber que eu não ia passar e eu não queria mais, porque a gente bate tanto na trave, a gente fica com medo de saber. Quando a gente tá ali, naquele momento, a gente fala: ‘Caramba, se eu arriscar e eu não conseguir, é o carimbo. Vai machucar muito’. Aí eu não queria. No dia da prova, eu saí sem RG, sem nada, porque eu sabia que se eu fosse sem RG, eu não ia nem entrar. Aí a minha mãe desceu correndo e falou: ‘Você esqueceu seu RG’, porque ela achou que fosse sem querer. Mas não foi sem querer, eu queria ter um motivo pra não conseguir fazer a prova. E eu fui. Durante o caminho o sapato abriu, foi horrível. Eu cheguei lá, falei que se já tô aqui, vou fazer. [...]
Minha mãe falava assim: ‘Meu filho, a gente sofreu muito na nossa vida. Minha última felicidade é ver você na faculdade’. Eu lembrava do homem falando e eu dizia: ‘Eu não vou conseguir. A gente não quer frustrar as pessoas que confiam na gente. Às vezes a gente fica dando mais peso nessas pessoas [que desmotivam], do que nessas que confiam. [...] Quando eu passei, que eu vi meu nome de aprovado, minha mãe falou: ‘Tu passou!’. Eu falei: ‘Não sei se eu passei, vai que tá errado no meu nome'".
Contrariando aqueles que não acreditavam, em 2011, Gil entrou na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) para cursar Ciências Econômicas. E não parou por aí, em 2017, ele iniciou, na mesma universidade, o Mestrado em Economia e realizou sua dissertação intitulada "Mercado de Drogas e Violência: Efeitos da Intervenção Governamental sobre a Violência gerada pelos Mercados de Drogas". Em 2019, iniciou seu doutorado e seu grande sonho era estudar fora. Durante o confinamento, Gil foi aprovado em três programas de doutorado nos EUA. Durante a entrevista à Ana Maria Braga, ele informou sua decisão: "[...] Tudo aconteceu como tinha que acontecer, e agora finalmente eu pude escolher a opção que sempre foi o topo da minha lista, que é a Universidade da Califórnia."
Durante a participação, ele contou sobre seu amor pelo futebol e seu time Sport Club do Recife. Aqui fora, pôde conhecer o estádio e alguns jogadores, ele até ganhou uma camiseta oficial do time. Porém, sofreu um ataque homofóbico pelo conselheiro do time, Flávio Koury, que teve aúdios vazados na véspera do Dia Internacional Contra a Homofobia, gerando revolta nas redes sociais, e diversos artistas e fãs cobraram uma resposta do time. O Sport se pronunciou com uma nota de repúdio onde dizem ser “um clube plural, do povo. Não segregamos quem ama o Sport. O amor que une nossa torcida ao clube é incondicional”. Foi afirmado na nota, que o Sport e o Conselho Deliberativo estão tomando todas as providências “para que esse e qualquer ato de preconceito seja devidamente penalizado”.
É preciso lembrar que não queremos notas de repúdio, esperamos por ações que responsabilizem essas pessoas. Homofobia é crime. O pernambucano postou no Twitter "Primeiro ataque homofóbico que me deparo após o BBB e posso garantir, ainda machuca MUITO! Mas sigo firme e providências serão tomadas. Tirando o dia off para não perder minha alegria por tudo que venho vivendo...... É muita dor!"
Gilberto José Nogueira Júnior, um menino pobre, gay, e desacreditado, vigorou. Contra todas as estatísticas ele se formou e continua crescendo. Gil conquistou o Brasil com sua força, alegria e cachorrada. O economista não ganhou o prêmio de primeiro lugar, mas levou muito mais que isso. Gilberto entrou para a história, e já faturou aqui fora mais de R$10 milhões em contratos. Suas cachorradas foram exibidas em horário nobre na emissora mais assistida do Brasil, e ele já assinou com a Globo para se manter nas telinhas. Gil também anunciou a pré-venda de seu livro "Tem que vigorar!", por meio da qual vendeu mais de cinco mil cópias só nas primeiras horas.
Gilberto foi um show de aceitação e superação, ou melhor, continua sendo. E Para finalizar, vamos relembrar o discurso de eliminação feito por Tiago Leifert: "Tem gente que vai ficar muito chateada com o que eu vou dizer, mas o resultado chegou. Vão dizer que é injusto. Mas quanto vale entrar para a história? Quanto vale não ser esquecido jamais? Porque pensando assim você ganhou o seu prêmio, você se mostrou, você foi aceito, você ensinou muita gente aqui fora a se amar e a se aceitar também. Você é um exemplo para todo mudo que um dia venha a se inscrever no Big Brother Brasil. Não venha pelo prêmio, venha para viver o programa. E nisso você vai ser para sempre campeão.
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