Introdução
As guerras foram responsáveis pela morte de muitas pessoas. Entretanto, além dos combates, muitas pessoas perderam suas vidas por doenças que se espalharam rapidamente entre os soldados e civis. O presente artigo irá mostrar algumas das doenças identificadas nos períodos de guerras, e como elas são tratadas nos dias atuais.
Pés de imersão: Também conhecida como pés de trincheira, tratava-se de um conjunto de infecções nos pés dos soldados, ocasionadas pela exposição direta a agentes físicos, químicos e biológicos[1] presentes no mesmo ambiente. Na Primeira Guerra Mundial, por exemplo, os soldados precisavam permanecer por um longo tempo em trincheiras encharcadas, frias e insalubres, sem poder se mover ou retirar os sapatos e as meias. Isso gerava infecções na pele que deixavam as pernas vermelhas, com mucosas, podendo, inclusive, levar à necrose[2] e à amputação (ZANI; LAZZARINI, JÚNIOR,2017).
Atualmente: Pode ocorrer com qualquer indivíduo que ficar por muito tempo com os pés molhados e de sapatos fechados. Para prevenir é importante limpar e secar bem os pés; aplicar talco antisséptico para retirar a umidade e não utilizar sapatos molhados.
Febre das trincheiras: É uma doença transmitida por piolhos, causada por bactérias Bartonella quintana e identificadas, primeiramente, em militares durante a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais. Os sintomas são febre, fraqueza, tontura, dor de cabeça, dor atrás dos olhos e dor intensa no dorso e nas pernas (BUSH; PERTEJO, 2020).
Atualmente: Tratamento realizado com antibiótico.
Febre tifóide: Também chamada de tifo, é uma doença relativamente grave e rara, causada pela bactéria Salmonella entérica typhi. A transmissão ocorre através da ingestão de água ou de alimentos que estejam contaminados com a bactéria, ou através do contato com fezes e urina de indivíduos contaminados. Ao atingir a corrente sanguínea, essa bactéria precisa ser combatida com urgência, caso contrário, a pessoa pode desenvolver graves complicações, podendo vir ao óbito. Os sintomas mais comuns são: febre alta, mal-estar, dor de cabeça, intestino preso ou diarreia com sangue, fraqueza, perda do apetite, aumento do fígado e do baço, dores e inchaço no abdômen, náuseas e vômitos e tosse seca (REDE D'OR SÃO LUIZ).
Atualmente: A febre tifóide é tratada por meio de medicamentos antibióticos, com a observação do paciente e hidratação reforçada. Também existe vacina contra essa doença, podendo ser tomada por indivíduos que viajam para locais onde ela é endêmica[3]. Além disso, é importante manter bons hábitos de higiene.
Influenza: Ficou conhecida também como gripe espanhola, devido ao grande número de óbitos na Espanha. A Gripe Espanhola foi uma vasta pandemia do vírus Influenza, iniciada em 1918. Os principais sintomas eram: dores musculares e nas articulações, dor de cabeça, insônia, febre alta, cansaço excessivo, dificuldade para respirar, inflamação da laringe, faringe, traqueia e brônquios, pneumonia, dor abdominal e aumento ou diminuição dos batimentos cardíacos. Após o surgimento dos sintomas, os indivíduos doentes apresentavam manchas marrons no rosto, pele azulada, tosse com sangue e sangramentos pelo nariz e orelhas (ROCHA, 2006).
Atualmente: A prevenção da gripe se dá por meio da vacinação anual, já que os vírus sofrem mutações aleatórias ao longo do ano para sobreviver. É importante também, evitar ambientes com aglomerações, pois o vírus da gripe pode se espalhar facilmente.
Malária: É transmitida pela picada da fêmea do mosquito Anopheles, infectada pelo microrganismo Plasmodium. Os sintomas geralmente são: calafrios, febre alta, dores de cabeça e musculares, aumento dos batimentos cardíacos, aumento do baço, e delírios (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019)
Atualmente: A malária tem tratamento específico e, em lugares com maior incidência da doença, é importante se prevenir com o uso de mosquiteiros, roupas que protejam pernas e braços, telas em portas e janelas, uso de repelentes, limpeza para evitar criadouros do mosquito etc.
ISTs: As Infecções Sexualmente Transmissíveis (antes conhecidas como Doenças Sexualmente Transmissíveis, DSTs) atingiram muitos soldados na Primeira Guerra Mundial, principalmente a sífilis e a gonorreia. Foi somente em 1943, com a descoberta da Penicilina[4], que se encontrou a cura para essas doenças.
Atualmente: As Infecções Sexualmente Transmissíveis são causadas por vírus, bactérias ou outros microrganismos transmitidos pela pessoa infectada durante as relações sexuais sem o uso de preservativos. Os sintomas variam no homem e na mulher, mas os mais comuns são: coceira na região, dor ao urinar, ardência, dor ou desconforto durante a relação sexual, feridas na região genital e corrimentos com odor forte. A melhor maneira de preveni-las é com o uso de preservativo e procurar um médico especialista caso tenha algum sintoma (ROSA, 2019).
Tuberculose: É uma doença transmitida pelas vias aéreas e é provocada, geralmente, pela bactéria Mycobacterium tuberulosis. A doença afeta os pulmões e pode atingir outros órgãos do corpo como rins, meninges e ossos. A doença se espalhou principalmente durante as guerras, onde o contato entre os indivíduos era maior. Dentre os principais sintomas estão: emagrecimento acentuado, tosse com ou sem secreção por mais de três semanas, febre baixa, sudorese noturna, cansaço excessivo, falta de apetite, palidez e rouquidão (FIOCRUZ, 2021).
Atualmente: Para a sua prevenção é aplicada a vacina BCG em crianças, que previne somente a forma grave da doença. O contágio também é evitado com o tratamento adequado dos doentes e melhoria das condições de vida da população.
[1] Agentes físicos: ruídos, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações etc. Agentes químicos: poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases etc. Agentes biológicos: bactérias, fungos, parasitas, protozoários, vírus etc.
[2] Necrose é a morte da célula ou parte de um tecido que compõe o organismo vivo.
[3] Em epidemiologia, uma doença endêmica é aquela que permanece em uma determinada população ou em uma determinada região geográfica ao longo do tempo, em um nível estável.
[4] A penicilina é o primeiro antibiótico que se tem conhecimento e ainda é utilizada no tratamento de doenças bacterianas.
Referências bibliográficas:
ROGERS, Kristen. O que a pandemia de gripe espanhola de 1918 pode nos ensinar sobre a Covid-19: Especialistas, autores de livros sobre vírus que matou mais de 50 milhões de pessoas no séc.XX, apontam semelhanças e diferenças com crise de novo coronavírus. In: CNN BRASIL. CNN Brasil Saúde. [S. l.], 26 jul. 2020. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/amp/saude/2020/09/26/o-que-a-pandemia-de-gripe-espanhola-de-1918-pode-nos-ensinar-sobre-a-covid-19. Acesso em: 4 ago. 2021.
ZANI, Maria Laura Chacra; LAZZARINI, Rosana; JÚNIOR, João Silvestre Silva-. Pés de imersão em água morna entre trabalhadores de lavagem de automóveis. Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, [S. l.], p. 217-221, 15 mar. 2017. Disponível em: https://cdn.publisher.gn1.link/rbmt.org.br/pdf/v15n3a05.pdf. Acesso em: 23 jul. 2021.
BUSH, Larry M.; PERTEJO, Maria T. Vazquez-. Febre das trincheiras. In: Manual MSD - Versão para Profissionais de Saúde. [S. l.], 2020. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/bacilos-gram-negativos/febre-das-trincheiras. Acesso em: 23 jul. 2021.
REDE D'OR SÃO LUIZ. Febre Tifoide: O que é, sintomas, tratamentos e causas. Disponível em: https://www.rededorsaoluiz.com.br/doencas/febre-tifoide. Acesso em: 29 jul. 2021.
ROCHA, Juliana. Pandemia de gripe de 1918. In: FIOCRUZ. Invivo. [S. l.], 2006. Disponível em: http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=815&sid=7. Acesso em: 29 jul. 2021.
BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE - MINISTÉRIO DA SAÚDE. Malária. [S. l.], 2019. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/malaria-5/. Acesso em: 29 jul. 2021.
ROSA, Jovânio Fernandes da. Doenças venéreas: o que é isso?. [S. l.], 7 fev. 2019. Disponível em: https://uromed.com.br/artigos/doencas-venereas-o-que-e-isso/. Acesso em: 1 ago. 2021.
FIOCRUZ. Tuberculose. [S. l.], 2021. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/es/taxonomia-geral-doencas-relacionadas/tubercuolse. Acesso em: 1 ago. 2021.
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