O grotesco. O terror. E a resulta.
Junji Ito é um quadrinista japonês especializado em histórias de horror. Ele cresceu
no campo, numa cidade ao lado de Nagano, e quando entrevistado, ele conta que
onde morava o banheiro ficava no fim de um túnel e era morada de insetos como
grilos, além de aranhas, e isso o influenciou em seus futuros contos.
Junji Ito é extremamente conhecido por suas histórias grotescas de horror nos
mangás. Dentro das coletâneas de horror que ele desenvolveu nos livros, é possível
ver o desenvolvimento de um drama que acaba por finalizar-se num horror repulsivo
e que explora a mesquinhez do ser humano, criticando o individualismo a que
estamos cada vez mais inseridos.
Outra genialidade do autor é a capacidade de tornar a leitura do mangá cada vez
mais sensorial conforme o leitor se aprofunda na história. O traço sensorial faz com
que possamos sentir dores, ouvir gritos e ficar de estômago embrulhado com os
cheiros e visuais de body horror[1] que cercam suas obras. Assim, sendo os
mangás muito bem descritivos, somos puxados “para dentro” deles sem ter uma
perspectiva de volta.
Fragmentos do horror
Uma traição, um desejo sexual, um abandono, uma feiticeira, uma morte
inesperada, a vontade de dizer adeus, uma criatura atemporal, uma escritora com
manias peculiares e uma garota que não tem ações próprias.
São nessas oito histórias avulsas, que Junji Ito transforma as coisas mais cotidianas
possíveis em nossos piores pesadelos.
Nada neste quadrinho requer explicação, ele utiliza o surrealismo[2] para elevar ao
máximo as sensações que o leitor irá sentir, tudo isso através do sobrenatural, do
monstruoso, do desconhecido. Tudo isso é suficiente para que possamos adentrar
as histórias e sentir uma repulsa que, ao mesmo tempo, nos leva a não parar de
querer ver e ler aquelas histórias.
Mas, por que falar de Junji Ito?
Junji Ito não é apenas um mestre dos mangás de terror, mas também ele é um dos
principais nomes do horror contemporâneo como um todo. A prova disso é que a
sua obra extrapola os quadrinhos e atinge outros campos, conversando com outras
mídias, como é o caso de sua nova série da Netflix “Junji Ito: HIstórias Macabras do
Japão”, que compila diferentes narrativas de Ito e, além disso, apresenta aos fãs
materiais inéditos.
A editora de livros de horror, DARKSIDE, arriscou-se na dissecação das obras do
autor para tentar entender um pouco mais do porque o terror de Ito é tão
perturbador. Segundo a editora, deve-se aos 8 elementos principais presentes em
sua obra. Aqui no artigo iremos explorar apenas 2 elementos, porém deixarei o link
da matéria da editora, caso alguém se interesse e queira aprofundar-se no tema.
1. Terror visceral
Ito se apropria de um visual gore[3], do body horror e de criaturas com visuais
perturbadores para causar desconforto no leitor. Além de que os próprios
personagens que começam bonitos ou de aparência convencional, vão se tornando
uma versão assustadora de si, doentia e que sucumbem à insanidade.
2. Estética preto e branco, textura e alto contraste
A maioria dos contrastes chega aos leitores em preto e branco, mas a forma com
que Ito trabalha os dois elementos torna tudo mais assustador. Com uma aposta
nos detalhes e no contraste, o autor cria uma estética grotesca e impactante através
das sombras, linhas, texturas e um cenário mais repugnante possível, com
proporções desequilibradas. Tudo isso converge com o movimento artístico do
cinema, o “Expressionismo Alemão”[4].
Por conta dessa diversidade de elementos que remetem ao horror em suas obras,
Junji Ito conseguiu um lugar de prestígio no universo do gênero. Atualmente, o autor
vem sendo considerado um dos grandes nomes do gênero, servindo de referência
para vários criadores de diversas mídias, seja cinema, videogames, livros, HQ’s,
entre outros.
Tendo em vista tudo que expus nos artigo, deixo aqui minha recomendação para
aqueles que curtem o terror e ainda não entraram em contato com as obras
magníficas de Ito. Quando me inseri no universo do autor, comecei pela obra
“Fragmentos do Horror”, mas acredito que qualquer uma fará com que você consiga
sentir os impactos que o autor deixa.
[1] Body Horror: é um subgênero do cinema de terror que apresenta
intencionalmente violações gráficas ou psicologicamente perturbadoras do corpo
humano. Essas violações podem se manifestar por meio de sexo aberrante,
mutações, mutilação, zumbificação, violência gratuita, doenças ou movimentos não-
naturais do corpo.
[2] Surrealismo: O surrealismo é um movimento artístico surgido na Europa em
1919. As obras desse movimento têm caráter onírico. O artista surrealista mais
famoso é Salvador Dalí.
[3] Gore: Gore ou Splatter é um subgênero cinematográfico dos filmes de horror,
que é caracterizado pela presença de cenas extremamente violentas, com muito
sangue, vísceras e restos mortais de humanos ou animais.
[4]: Expressionismo alemão: O expressionismo alemão foi um movimento artístico
surgido entre o final do século XIX e início do século XX, dentro do contexto das
vanguardas europeias. O movimento está inserido na pintura, cinema, escultura e
também na literatura.
Referência Bibliográfica
https://darkside.blog.br/por-que-o-terror-de-junji-ito-e-tao-perturbador/
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