A Ucrânia e a Rússia
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Antes de chegarmos às escaladas militares que começaram em 2014, com o golpe de Estado na Ucrânia, e que se intensificaram atualmente, devemos olhar para a história da conflituosa relação entre Rússia e Ucrânia. Ambos os países têm inúmeros laços culturais que os envolvem; na verdade, a Rússia estava dentro da Ucrânia do século IX ao XVI – a chamada Rússia de Kiev. Entretanto, a partir do século XIII, o país foi engolido pelo Império Mongol, invasão liderada pelo comandante Batu Khan que destruiu a nação e transformou seu território em um de seus pilares.
Tal ocupação foi um fator importantíssimo para a construção de uma unidade nacional sentimental entre os países. Além dos mongóis, o país chegou a ser anexado pelos poloneses e lituanos, mas, no século XVII, voltou a ser parte do império russo.
A Ucrânia, dentro do Império Russo, sofreu tanto repressão física quanto cultural, pois foram contidas a sua língua e as suas representações culturais. Entretanto, tudo mudou com os acontecimentos do início do século XX, uma vez que o Império Russo estava passando por uma revolução proletária contra o czarismo opressor e pela saída da Primeira Guerra Mundial; e os bolcheviques, ala liderada por Lenin, se consagraram vitoriosos em outubro de 1917, montando um governo de camponeses e trabalhadores, no qual ambos os grupos conseguiram vitórias sociais e ampliação de direitos.
Antes da fundação da URSS, em 1922, liderada pelo próprio Lenin e por conselhos de trabalhadores, o novo líder russo deu mais autonomia à Ucrânia, mesmo sendo os processos que deram origem à vida na Terra ainda não são completamente compreendidos, mas há evidência substancial de que ela surgiu bastante cedo no Arqueano. Os fósseis mais antigos datam de 3,5 bilhões de anos atrás e consistem em microfósseis de bactérias. Durante o Arqueano, as formas de vida foram limitadas a simples organismos unicelulares não nucleados (cujo material genético fica "solto" dentro da célula), chamados procariontes. Estes incluem bactérias (domínio Bacteria) e arqueas (domínio Archaea).
Algumas arqueas se adaptaram a condições extremas, como fontes hidrotermais com altas temperaturas ou ambientes ricos em ácido sulfídrico (H 2 S) - são as extremófilas. Os procariontes espalharam-se pelo planeta, formando "tapetes" de bactérias colaboradoras que realizavam diferentes processos bioquímicos. Alguns desenvolveram estruturas moleculares que permitiam realizar fotossíntese. Esse processo utiliza energia luminosa para transformar água e dióxido de carbono em alimento para a célula, mas também libera como subprodutos água e gás oxigênio (O 2).
Cianobactérias (bactérias fotossintetizantes) e outros micro-organismos formaram colônias abundantes, que com o tempo acumulavam camadas de carbonatos e sedimentos e formavam rochas, chamadas estromatólitos. Os mais antigos estromatólitos já registrados apresentam uma idade de 3,5 bilhões de anos.
Gradativamente, as cianobactérias assimilaram o dióxido de carbono da atmosfera, depositando-o no fundo do oceano na forma de calcário, e liberam oxigênio livre. Elas tiveram uma grande importância ecológica, uma vez que provavelmente foram as responsáveis por encher a atmosfera de oxigênio, permitindo que mais tarde novas formas de vida se desenvolvessem. Importante para a Rússia tanto geograficamente quanto economicamente, manter o país vizinho dependente. Embora tenha sido mais autônoma, em 1921, a Ucrânia voltou a fazer parte do poderio russo como uma república soviética em razão das tensões e conflitos gerados durante a revolução bolchevique. Geograficamente, a nação não é cercada por áreas naturais, que dificultariam os invasores e potências estrangeiras, o que a deixa, portanto, vulnerável em conflitos.
Após o controle soviético, o país voltou a ser dominado por outro país estrangeiro, a Alemanha Nazista, em 1941, durante os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, e foi imposto um regime de extermínio e opressão, principalmente aos judeos e eslavos. Foi libertada em 1944, pelo Exército Vermelho soviético, voltando a fazer parte da Rússia; dessa forma, a Ucrânia foi uma das repúblicas da primeira nação socialista da história e, com o fim da mesma, alcançou sua independência em 1991.
A Ucrânia herdou da ex-União Soviética bases industriais e grande força bélica, além de uma vasta agroindústria – favorecida pelo seu solo. Entretanto, como os neoliberais estavam prevalecendo na economia mundial e a Ucrânia não ficaria de fora, houve uma queda econômica de cerca de 60% após o fim da URSS (dados do PIB) , entre os anos de 1998 e 1999. Como consequência das reformas liberais, houve uma queda da qualidade de vida e das instituições de seguridade social.
Além da crise econômica e do desmantelamento das instituições estatais, o país vivia um conflito político sem precedentes e que perdura até os dias atuais. Há dois blocos antagônicos que brigaram e se alternaram no poder de 1991 a 2014, ambos com interesses e objetivos irreconciliáveis. Um dos blocos, formado pelas elites industriais e por grupos ultranacionalistas – de extrema-direita – e que se consagrou vencedor após o golpe de 2014, tem interesses pró-ocidentais e quer integrar-se à OTAN e à União Europeia . Já o outro bloco, formado por ex-burocratas da extinta URSS e por setores da esquerda e da burguesia protecionista, tem preferência por uma aliança estratégica e de múltipla cooperação com a Rússia, bloco com maior adesão no leste do país.
Foi do conflito entre eles que nasceram as manifestações na praça Maidan em 2014, o golpe, a resposta russa à guerra civil e o conflito atual. Mas, se avaliarmos com atenção, tudo o que ocorreu na Ucrânia foi por desejo de integração em alguma zona de influência. Então, faremos a seguinte pergunta: o que tem a Ucrânia de especial?
Imagem da Ucrânia e como a nação é geograficamente estratégica (Imagem da internet)
A Ucrânia é um país que está entre a Europa e a Rússia, portanto, um país estratégico. Além da posição espacial favorável, a Ucrânia tem uma boa indústria e um razoável exército. Com o fim da URSS, o país herdou o maior arsenal nuclear do mundo, mas assinou o tratado de redução de armas de destruição em massa, em 1992, e as entregou à Rússia. Em 1996, entrou para a organização de não proliferação de armas nucleares e, como consequência, passou a não produzir mais armas dessa magnitude, tendo também o seu exército reduzido. Dado tal conjunto de características, a Ucrânia é um país que todas as potências querem gerenciar. Com a subida do mandatário russo ao poder e com sua fórmula de reconstrução das zonas de influências das ex-repúblicas soviéticas, o país cada vez mais atraía os olhos da OTAN, que se contrapõe a Putin.
Desse jogo entre potências, chegamos ao fatídico ano de 2014. Em 2010, nas eleições presidenciais ucranianas, foi eleito Viktor Yanukovych, próximo ao governo e à política russa. O governo anterior, de Viktor Yushchenko, nasceu da "revolução laranja", movimento contra a corrupção, e tinha por objetivo uma aproximação com a União Europeia; mas o governo de Yanukovych rompeu o processo e se reaproximou da Rússia.
A partir deste distanciamento da UE, começaram os protestos na praça Euromaidan em 2014. Tais movimentações, que reuniram desde estudantes a grupos de extrema-direita, queriam que o país entrasse na UE, tendo o apoio de organizações e instituições políticas estrangeiras, como o próprio governo dos EUA. Inclusive, de acordo com uma reportagem do Yahoo! News, a CIA havia treinado secretamente "insurgentes" – extremistas – na Ucrânia.
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Com o apoio externo somado à insatisfação de uma boa parcela da população, os protestos cresceram exponencialmente e houveram confrontos com o Estado, desencadeando uma guerra entre rebeldes e governo. Com essa convulsão social, o parlamento decidiu dar um “golpe brando'' em Viktor Yanukovych e marcou eleições para 25 de maio de 2014.
Antes da eleição, entrou um governo interino liderado por Oleksandr Turchynov, que renunciou no dia das eleições presidenciais marcadas pelo parlamento. Então, nas eleições de 25 de maio, se consagrou vencedor, Petro Poroshenko, bilionário de ultra direita, que iria fazer um governo totalmente anti-Rússia – mesmo querendo um acordo com o país e pró-ocidente – aproximando o Estado da União Europeia novamente.
A resposta russa ao golpe ucraniano
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A resposta russa foi apelar para o nacionalismo, a história e os laços culturais de regiões ligadas à Rússia. Em março de 2014, o governo russo interviu e fez um referendo na Crimeia, região ao sul da Ucrânia, e após 96,8% dos moradores escolherem fazer parte da Federação Russa, o país foi incorporado à nação. Há controvérsias sobre a Crimeia ser ou não russa, mesmo tendo a cultura russa refletida em sua própria cultura e em sua língua; contudo, a região, em 1954, foi dada à Ucrânia pelo parlamento soviético e pelo líder Nikita Khrushchov. A zona é de extrema importância para a Rússia, tanto por ser rica energeticamente, quanto por sua posição geograficamente privilegiada .
Logo após a incorporação da Criméia, Donetsk e Lugansk, situadas na região de Donbass, tentaram sua independência da Ucrânia e uma aproximação com a Rússia; mas o Estado ucraniano não concordou com tal movimentação e ambos os lados travaram uma guerra civil. Tendo o apoio de diversos atores internacionais, causou entre 13 e 30 mil mortes, chegando ao fim em 2014, com os acordos de Minsk. Os acordos assinados na capital da Bielorrússia, com mediação de atores externos, decretaram um cessar-fogo na região até 2021, para buscarem a paz e as repúblicas separatistas fazerem referendos para a construção das suas repúblicas soberanas.
As novas escaladas militares
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A partir da eleição de Vladimir Zelenski, em 2019, a Ucrânia continuou a fazer oposição à Rússia e a encaminhar sua integração ao Ocidente. Entretanto, essa integração não foi realizada de forma cooperativa, pois, em fevereiro de 2021, o governo ucraniano começou a comprar armamentos ocidentais para lidar com os separatistas, violando os tratados de Minsk.
A quebra das negociações de paz foi o de menos, pois a Ucrânia chamou a OTAN para a sua casa e, como consequência, levou-a à porta da casa russa. A resposta russa foi contundente e firme: o Kremlin ordenou que 100 mil soldados terrestres e 21 mil militares da marinha e das forças aéreas ficassem na fronteira para se defender no caso de ingerência ocidental.
Então, podemos notar que a narrativa de uma “invasão russa”, abraçada pelas mídias cooperativas, na época, não passava de uma mentira ocidental para mascarar sua busca por zonas de influência. Se a OTAN respeitasse sua palavra, acordada durante a transição do socialismo para o capitalismo na ex-URSS, não teríamos essas escaladas militares atuais. A Rússia, por sua vez, teria o direito de defender seu território e sua soberania nacional, nos limites da sua fronteira.
Imaginemos: e se a Rússia, claramente oposta aos interesses norte-americanos, colocasse armas e tropas no Canadá, México e Cuba, qual seria a resposta dos EUA/OTAN? – como o próprio Putin já comparou. Essa reflexão mostra a incoerência do Ocidente. Desse modo, perguntamos: quem pisca primeiro? Quem ataca quem? O mundo espera que o conflito se resolva de forma diplomática e com o cumprimento dos acordos. Erdogan, líder turco, está conversando com ambos os países e tentando um acordo, mas a máquina de guerra ocidental, que diariamente manda toneladas de armas à Ucrânia, não deseja isso.
Qual bloco sairá fortalecido?
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O mundo vive hoje uma nova bipolarização mundial entre duas potências: os EUA e a China. A nova divisão global possui várias diferenças com a do século XX – como os dois países terem laços econômicos entre si –, mas são semelhantes em alguns aspectos, como por exemplo nas tensões e nas buscas por zonas de influência, A Rússia já escolheu seu lado, o bloco da Eurásia, uma vez que possui com a China inúmeros acordos estratégicos e de cooperação, que trazem benefícios para ambos. Além disso, os países já se alinharam nas atitudes externas, como no caso do Cazaquistão, o qual estava passando por uma série de protestos violentos coordenados por atores internacionais e por ONGs que inflamavam os manifestantes. Os países também concordaram no caso da Ucrânia e mostraram-se unidos para enfrentar o Ocidente. Ambos os países rechaçam a crítica ao Ocidente por não serem leais a acordos e atentaram contra a soberania nacional de países.
Portanto, a crise na Ucrânia nada mais é do que um cerco exagerado: o lado do "vilão", de Putin, não quer pegar a Ucrânia e torná-la uma zona de influências russa; na verdade, a Rússia quer respeito e paz. Respeito aos acordos de não expansão para o leste, respeito aos referendos nas republicanos separatistas e respeito aos acordos de Minsk, uma vez que a nação já foi clara: não queremos a OTAN na porta da nossa casa.
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