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Fernanda de Oliveira Silva

Negacionismo na contramão do avanço científico

Atualizado: 14 de jun. de 2021

Quando a realidade é invadida pelo desconhecido ela se torna irreal e o medo pode nos fazer pura e simplesmente negá-la. A negação é a máscara retirada do rosto e posta, como um poderoso véu, no mundo; uma forma de escapar de uma verdade desconfortável, dolorosa ou mesmo insuportável. (JORGE; MELLO; NUNES, 2020, 588.

O contexto atual é marcado pela descrença na política, na economia, na ciência, nos órgãos da saúde e nos meios jornalísticos. Este cenário apresenta como consequência a promoção de um ressentimento generalizado e que contribui para a propagação de discursos negacionistas (LIMA, 2020; GIOVANELLA et al., 2020).

O termo negacionismo tem origem com o historiador francês Henry Rousso, em sua obra intitulada “Le Syndrome de Vichy''. Com esta expressão, o historiador buscava denominar a camada da sociedade que negava a existência do Holocausto, gerenciado pela Alemanha Nazista na Segunda Guerra Mundial (MOREL, 2021).

Entretanto, hoje em dia o negacionismo pode ser entendido como sendo a negação de descobertas científicas e momentos históricos, tendo como base crenças e valores de determinado grupo (LIMA, 2020). A recorrência e expressão do termo pode ser identificada em quatro categorias, sendo elas: negacionismo científico, presente nos movimentos antivacina e terraplanismo; negacionismo climático, em que afirmam ser farsa o aquecimento global; negacionismo histórico, com a negação do holocausto; e o negacionismo do racismo. Estas categorias expressam a complexidade e diversidade do fenômeno (MOREL, 2021).

Os discursos negacionistas se contrapõem à ciência, pois apresentam como características a identificação de conspirações, a seletividade de materiais que contradizem as investigações científicas, o uso de falsos especialistas e falácias lógicas (CAPONI, 2020). Desta forma, estes grupos buscam fazer parecer com que determinado tema seja mentiroso a partir da utilização de argumentos aparentemente racionais (LIMA, 2020).

Por outro lado, as teorias científicas são derivadas de métodos científicos rigorosos em que as opiniões e especulações não são consideradas, fazendo com que a diferença principal entre ambos seja a objetividade da ciência e a existência de um consenso entre os cientistas, no que se refere às investigações científicas (CHALMERS, 1997). Atualmente, com a pandemia de Covid-19, tornou-se bastante evidente a disseminação de discursos de cunho negacionistas por parte de figuras públicas e da sociedade civil, em que, minimizam os impactos da pandemia, atribuindo termos, como, por exemplo, ‘gripezinha’ e ‘histeria’. A consequência de tais afirmações pode ser observada nos elevados números de casos e mortes pelo vírus (CALIL, 2021).

Segundo Tatiana Roque, este cenário negacionista nos ensina e demonstra que não basta, apenas, que nós defendamos a ciência com base na neutralidade científica, se faz necessário a existência de iniciativas de divulgação científica que sejam democráticas e acessíveis capazes de desempenhar autocrítica nos cidadãos. Anastasia Guidi Itokazu, em Ciência para os 99%, complementa a ideia de Tatiana afirmando a necessidade de se construir uma ciência plural.


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