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Foto do escritorLarissa Foltran Botega

Os dois maiores mitos sobre amamentação no Brasil

Eu tenho certeza que você já ouviu falar que alguma mulher não amamentou o filho ou filha porque não teve leite. Pois é, isso é mito. Por mais que a maioria das pessoas diga que acha lindo a mãe amamentar o bebê, há um nível muito grande de mentiras sobre o tema em nosso país, o que acaba influenciando na média de tempo que as mulheres amamentam no Brasil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno (amamentação pela mãe) pelo menos até os dois anos de idade, mas no nosso país a média é de 54 dias. Ou seja, sequer chegamos perto dos seis meses de amamentação exclusiva.


Isso talvez pareça irrelevante para você, em um primeiro momento, mas os benefícios do aleitamento materno são diversos, enquanto que a fórmula infantil traz vários malefícios. Apenas para citar alguns: o leite materno influencia diretamente a imunidade do bebê, protegendo contra doenças, prevenindo a formação incorreta dos dentes e problemas na fala, proporciona melhor desenvolvimento e crescimento, melhora a digestão e minimiza as cólicas, reduz o risco de doenças alérgicas e quanto maior o tempo de aleitamento, maior o desenvolvimento da inteligência. Por outro lado, a fórmula infantil traz maior risco de asma, alergias, doenças respiratórias, deficiências nutricionais, câncer infantil, doenças crônicas, diabetes, doença cardiovascular e, até mesmo, maior risco de morte.


Logo, é extremamente importante que informações corretas e de qualidade sejam disseminadas entre a população, já que é um assunto de saúde pública. Vamos aos mitos, então, começando pelo que citei no começo do texto:

  1. “Ela não amamentou porque não teve leite” ou “meu leite era fraco”

Esse, na minha opinião, é o maior mito que existe sobre a amamentação. Os casos em que a mãe realmente não produz leite (hipogalactia) são raros e acontecem por alterações hormonais ou na estrutura da mama, ou por conta de ansiedade ou estresse da mãe. O que ocorre, na maioria dos casos, é uma insegurança da mãe em seu filho/filha estar recebendo leite suficiente para saciá-lo, principalmente quando o bebê chora muito.


É importante saber que, nos primeiros dias, o leite materno é diferente de como imaginamos: é mais transparente e “ralo” e é chamado de “colostro”. Mas não se engane pela aparência, ele é muito potente, sendo chamado até de “primeira vacina” por alguns, já que é rico em anticorpos[1] e ajuda a proteger o bebê nessa idade, em que o sistema imunológico[2] ainda está se desenvolvendo.


A “descida” do leite (apojadura) vai acontecer entre o terceiro e quinto dia do bebê, podendo chegar até a oito, em alguns casos. Nesse momento, as mamas ficarão mais cheias e a aparência do leite vai se modificar, ficando mais similar ao que estamos acostumados a ver.

O grande problema está em não saber isso e pensar que o leite – enquanto ainda é colostro – é fraco. Junto desse pensamento, tem um bebê chorando e uma mãe com medo que seu filho esteja passando fome: está formado o cenário do desmame precoce (antes dos dois anos).


Bebês choram, é a única forma que eles têm de se comunicar com o mundo. As primeiras horas e dias deles fora do útero são um tanto quanto assustadoras: imagine que você passou nove meses dentro de um quarto fechado e quieto e, um certo dia, está no meio de uma avenida super movimentada e que você nem sabe onde fica. É mais ou menos essa a sensação que eles têm, é natural que chorem. Além disso, o choro pode ser causado por inúmeras outras coisas: sono, calor, frio, cólica, dor, excesso de claridade ou de escuridão, etc.


Em todos esses casos, muito provavelmente ele vai buscar o peito da mãe, mesmo que não esteja com fome ou sede, mas por segurança e aconchego. E isso é ótimo, já que é justamente esse estímulo da boca do bebê sugando o seio que faz com que o leite seja produzido.

  1. “Chupeta não faz mal”

Chupeta faz mal sim. Mas não entenda essa frase como uma culpabilização dos pais que oferecem chupeta aos filhos, é compreensível, pela exaustão que um bebê pode gerar e pela falta de informação que se tem sobre o tema.


Por isso, é importante saber quais são os malefícios que a chupeta, assim como outros bicos (mamadeiras, alguns copos com bicos, certos modelos de mordedores, etc.), pode causar. O principal problema da chupeta é a confusão de bicos que ela pode causar, ou seja, ela pode fazer com que o bebê desaprenda a sugar o seio da mãe. Isso, porque a posição que a língua fica no seio e na chupeta são diferentes e, por ser mais fácil sugar a chupeta/mamadeira que o seio, faz com que o bebê rejeite o peito e fique cada vez mais com esses objetos, conforme o tempo passa.


Acontecendo isso, a quantidade de leite disponível na mama pode diminuir pela falta de estímulo (sucção pela boca do bebê). Assim, temos um bebê rejeitando o seio da mãe para chupar chupeta ou mamar na mamadeira e, do outro lado, temos uma mama com pouco leite por o corpo não saber que precisa produzir mais, já que não tem ninguém mamando nele. A consequência disso é o desmame precoce.

Saber desses e outros mitos sobre amamentação é fundamental para proporcionar uma vida mais saudável aos nossos filhos e filhas e acabar com a disseminação de “informações” falsas que atrapalham o aleitamento materno das mulheres no nosso país.



[1] anticorpos: defesa do organismo, através de proteínas, contra bactérias, vírus e outros corpos estranhos.

[2] sistema imunológico: é uma barreira de milhões de células diferentes no nosso corpo para garantir a defesa do organismo e manter o corpo funcionando livre de doenças.


Referências Bibliográficas

FIOCRUZ. Mitos e verdades sobre amamentação e doação de leite humano. Disponível em: http://www.iff.fiocruz.br/index.php/8-noticias/209-mitosleitehumano. Acesso em 05 jul. 2021.


ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. 14 mitos sobre a amamentação. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2019/08/1682331. Acesso em 05 jul. 2021.


MARQUES, Emanuele Souza; COTTA, Rosângela Minardi Mitre e PRIORE, Silvia Eloiza. Mitos e crenças sobre o aleitamento materno. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2011, v. 16, n. 5 [Acessado 5 Julho 2021] , pp. 2461-2468. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1413-81232011000500015>.


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