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Amanda Marcondes

Qual o futuro do Cinema Brasileiro?

Uma breve história do cinema brasileiro


A primeira exibição cinematográfica no Brasil aconteceu em 31 de Julho de 1897, no Salão Novidades Paris na cidade do Rio de Janeiro. Já como a primeira produção audiovisual brasileira são consideradas as gravações da Baía de Guanabara feitas pelos irmãos italianos Paschoal Affonso e Segreto no dia 19 de junho de 1898. E é nessa data que até hoje comemoramos o Dia do Cinema Brasileiro.


Desde então a história do nosso cinema passou por diferentes eras cinematográficas, entre elas podemos citar: o surgimento do cinema com som (1929), o Domínio de Hollywood (1934), as Chanchadas (1947), o Cinema Novo (1963), o Údigrudi (1968), a grande Embrafilme (1969), a Retomada (1992), entre outros. Cada uma dessas eras foram fortemente marcadas pela política do país e sempre foram símbolo de luta pela arte diante dos regimes autoritários que vivemos.


Ao longo de sua história cinematográfica, o cinema brasileiro levantou voo para além das fronteiras do país, tendo muitas de suas obras reconhecidas e premiadas internacionalmente. “O Cangaceiro” (1953) foi o primeiro filme brasileiro a vencer premiações de âmbito internacional, como o do Festival de Cannes, além de ter sido exibido em mais de 80 países. “Central do Brasil” (1998) recebeu um Globo de Ouro e um Urso de Ouro, além de ter concorrido ao Oscar em duas categorias. “Cidade de Deus” (2002) é um dos filmes mais aclamados do cinema nacional, foi indicado ao Oscar em quatro categorias, levou o BAFTA de melhor edição e ainda teve mais de 20 indicações e premiações em festivais de cinema.


Nos últimos dez anos, o cinema nacional também registrou grandes bilheterias, entre elas as dos filmes: Carandiru (mais de 4 milhões), Se Eu Fosse Você 2 (mais de 5 milhões), Tropa de Elite 2 (mais de 11 milhões) e a comédia Minha Mãe É Uma Peça 3, lançada em 2019 e que entrou para história do cinema nacional como o filme mais assistido do país com 143,9 milhões acumulados nas bilheterias.


Mas, apesar de tudo disso, um questionamento permanece: por que um país que possui alto índice populacional, com produções de qualidade, não consome o cinema nacional da mesma maneira que consome o estrangeiro (principalmente o hollywoodiano)? Afinal, por que subestimamos o nosso cinema?


Fonte: Still do filme Medida Provisória (2022)


Uma pergunta, muitas respostas


No ano de 2021, uma pesquisa divulgada pelo Itaú Cultural/Datafolha entrevistou 2.276 homens e mulheres, com idade entre 16 e 65 anos, integrantes de todas as classes econômicas, de todas as regiões do país. Cerca de 57% dos entrevistados dizem ter ido poucas vezes ao cinema para assistir produções nacionais. Já 19% dizem nunca ter ido ao cinema assistir um filme brasileiro e 22% dizem nunca terem assistido a filmes e/ou séries brasileiras, nem mesmo nas plataformas de streaming.


Em seu ensaio “Cinema: Trajetória no Subdesenvolvimento” de 1973, o historiador e crítico de cinema Paulo Emílio Sales discorre sobre a ideia de um subdesenvolvimento cultural brasileiro. Ele aponta em seu texto a existência de uma “situação colonial" na qual o Brasil nasceu e cresceu e que, mais tarde, impulsionado pelo imperialismo estadunidense, acabou por determinar as produções estrangeiras (principalmente as norte-americanas) como aquelas responsáveis por introduzir a sétima arte no Brasil, mantidas como a principal fonte de produções cinematográficas no país.


Mesmo depois da formação do cinema nacional, da criação e estabelecimento de sua identidade, as produções do exterior ainda ocupavam a maior parte do imaginário da população brasileira quando se falava em filmes. Uma das explicações para isso é a potência da indústria estrangeira, que já possuía espaço e influência em todo o mundo, enquanto o cinema nacional ainda recebe poucos investimentos de produção e, principalmente, de distribuição, o que afetava diretamente a chegada dos filmes aos espectadores - impossibilitando-a, muitas vezes.


A criação da Embrafilme (Empresa Brasileira de Filmes), no ano de 1969, teve papel crucial para o desenvolvimento cinematográfico do país, que viveu um dos seus melhores momentos nas décadas de 70 e 80, já que o principal objetivo da empresa era estabelecer no Brasil uma indústria cinematográfica independente da estrangeira. Durante esse período, muitas mudanças foram registradas, como, por exemplo, a do aumento de 84 para 140 do número de dias de exibição de filmes nacionais no circuito comercial, que era determinado pela Lei da Cota de Tela. Porém, a diminuição do poder de investimento do Estado com a crise do petróleo, o avanço do domínio norte-americano nos mercados latino-americanos e a dolarização das atividades cinematográficas no país acabaram contribuindo para o declínio da Embrafilme até sua extinção, em 1990, pelo governo Collor.


Qual o futuro do cinema brasileiro?


Essa não é uma pergunta fácil de responder. Por um lado, a fase pós pandêmica do cinema nacional vem apresentando resultados positivos com a volta às salas de cinemas e a retomada das produções. Grandes estreias nacionais (com críticas positivas) aconteceram no último ano e vem esquentando o mercado, como os longas “Medida Provisória”, “Deserto Particular”, “7 Prisioneiros", “As Verdades” e “Marighella”. Porém, ao mesmo tempo, vivemos em nosso país uma grave crise política e econômica que permeia de incerteza e desesperança diversos campos da nossa sociedade. Como pensar em ir ao cinema quando mal se pode pagar as contas da casa? Como pensar em acesso à arte e à cultura quando o Brasil volta a ocupar o Mapa da Fome[1]? É cruel e desumano que tenhamos que escolher entre direitos que nos são básicos, previstos em constituição e que deveriam ser garantidos a toda a população pelo Estado e seu governante. Em meio à atual situação vivida no país, onde o desmonte e descaso com a arte e sua preservação chega a ser nada comparado ao que vem acontecendo com milhões de brasileiros e brasileiras, é importante lembrar da certeza: assim como nosso povo, a arte também luta. A arte também revoluciona. A arte também resiste.


NOTAS


[1] Os indicadores do Mapa da Fome foram criados pela FAO e compõem um quadro chamado Prevalência de Desnutrição. Por meio desses indicadores, a organização mede o acesso adequado aos alimentos e segurança alimentar do conjunto de uma população.


REFERÊNCIAS:


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