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Maria Fernanda Viana Chypriades

Responsabilidade

Esse final de semana fui pra praia do Guarujá, fiquei na casa da minha tia, a mesma dos cenários da minha infância. Apesar disso, o momento que mais lembrei dessa época não foi guardado nas paredes da conhecida casa , mas no aberto da praia em si. Lá da areia, estirada na canga bege com detalhes em verde, eu ouvia de fundo as típicas ofertas:

– Queijinho na brasa, queijinho da brasa

– Aceita caipirinha moça?

– Quem vai querê tererê?!


Só um dos vendedores oferecia em silêncio; passava pela praia o carrinho do sorveteiro sem necessidade de forçar a garganta; as crianças, no mais profundo da distração e brincadeiras de se auto empanar na areia fofa ou destruir com incomparável agilidade castelos erguidos pelos pais, percebem com facilidade o passageiro herói.


Correm até ele com a pressa de demorar na escolha do picolé, analisam o panfleto e começam o inquérito:

– Esse é bom?

– Esse deixa a língua azul?

– Tem de brigadeiro? E de paçoca? E de caramelo?

– Esse de morango tem gosto de que?

“De morango” o sorveteiro responde com a mesma seriedade com a qual foi perguntado, ciente da responsabilidade que lhe foi dada.


Ele está diante, não apenas de Mariazinha, mas encara olho a olho uma infância inteira. É responsável pelo sabor que marca uma época, vai se misturar ao cenário da praia do Guarujá, ao cheiro de maresia de uma casa usada só aos finais de semana e ao frio da praia quando se sai do mar no fim da tarde, que só colo de mãe esquenta.



Ele sabe, e por isso responde com tal seriedade, ele sabe que a vida caminha e que a infância também chega ao fim da tarde e se põe sem festa, sem alarde e nem dia marcado, só carrega cheiro e gosto.


– Quero de milho verde! – A criança escolhe.

O sorveteiro dá, coloca o dinheiro no bolso e segue pela praia, passageiro, assim como a infância.


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