top of page
Buscar
Zabell Resende

Águas, revoltas e corpos: uma alucinação minha em um espelho

Atualizado: 10 de ago. de 2022

Há um tempo eu considerei escrever todas as dúvidas e conflitos que aparecem

cotidianamente pra mim, mas também há tempos eu venho me encolhendo e sufocando tudo.

Talvez eu tenha vergonha demais ou minha síndrome do impostor me impossibilita de

expressar todas as coisas que mantenho guardadas, porque, no menor sinal de desejo de

querer cuspir o que sinto, eu me vejo insuficiente, insegura e cada vez mais minha imagem

vai se diminuindo no reflexo do espelho. Esse mesmo espelho que, sob o feitiço da ilusão,

também pode refletir a imagem de um outro com altura suficiente para ser considerado fora

do habitual. O mesmo ser também é pálido, rígido, sério e egóico. Aquele que tem o controle

de parar um oceano com águas subversivas, a menos que essas águas, em algum momento de

sua distração, possam atingir o espelho protegido pela estrutura rígida e espessa e, numa

súbita força, romper tudo que dele foi construído. Toda imagem, todo falso heroísmo, todo

ego, principalmente o ego. É por essas águas que ando esperando, porque, de certa forma,

ainda acredito na imagem delas rompendo todo feitiço dele, toda ilusão que nos faz acreditar

que é apenas nele que está a força.


E, passado tanto tempo desde que escrevi essas primeiras linhas, ainda acredito no poder

delas, das águas que metaforizam eu e as outras elas. Ainda espero atos de subversão, mesmo

tentando ser um pouco no meu cotidiano, principalmente quando minha pele se encosta em

alguma dessas águas e eu encontro o amor em meio ao caos e desobediência, porque amar

elas ainda é meu ato mais revolucionário e, talvez, o que tenho pra dar. Um propósito. Todo

toque, todo suspiro, suor e testa colada em alguma dessas águas tempestuosas, eu me sinto

mais viva, mesmo correndo risco de morte. É como estar em cima de um trapézio e pular,

esperando ser segurada pelos meus pés. Adrenalina. Mas, mesmo pulando, ainda sinto que se

meus pés não me segurarem, alguma dessas águas irá.


A última vez que as senti, foi quando espalhei tinta em uma tela. Foi meu último suspiro até

apagar e reconhecer novamente a imagem do espelho, que nesse momento já não cabia mais

aquela réplica aterrorizante de homem. Havia apenas as águas. Elas. Vermelho sangue e

cacos de vidro em meus pés, esses que se espalharam por todo chão. O espelho estava

quebrado. Eu nunca mais estive nessa epifania, mas ainda sinto todas as suas impressões

surrealistas.

14 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Σχόλια


bottom of page